sexta-feira, setembro 01, 2006

SOMOS, MESMO, REFORMADOS?

Quando lemos a História da Igreja vibramos com a fidelidade a Cristo, dos homens e mulheres de Deus. A começar com João Batista, Tiago irmão de João, Estevão, Paulo e outros. Encanta-nos a fidelidade de dezenas de pré-reformadores que surgiram quando a Igreja entrou em decadência por volta do século XIV; pregaram fielmente o Evangelho desafiando a cúpula corrompida da Igreja; quase todos foram martirizados pela “Santa” Inquisição.

O primeiro reformador bem sucedido foi Martinho Lutero, graças à proteção de Deus que pôs a seu lado os príncipes alemães. Depois, e ainda em seu tempo, vieram Melanchton, Zwínglio, João Calvino.

A Reforma se espalhou por grande parte da Europa sedenta da Palavra de Deus, tanto quanto de justiça social. Os poderosos exploravam os plebeus, geralmente muito pobres.

Era inseparável a verdade evangélica, do clamor por justiça social. Aos reformadores como Lutero e Calvino, interessava-os e movia-os a vida espiritual cristã coerente. Mas vida espiritual legítima desperta o desejo de justiça, pelo amor ao próximo, sem o qual não há verdadeira fé cristã.

Lutero e Calvino foram os dois pregoeiros da fé cristã integral. Não queriam a violência, mas foram acusados de promovê-la, porque o Evangelho estimula o povo ao progresso, e à não-aceitação da injustiça. As muitas revoltas dos camponeses e burgueses, contra a dominação do clero e dos ricos e nobres, misturavam-se com o movimento puramente religioso e cristão.

Calvino, especialmente, batalhou pela justiça social. Não podia aceitar que um cristão, a partir dele, deixasse de partilhar os seus bens com os mais pobres. Ele e os pastores reformados, em Genebra, viviam pobremente porque suas consciências não lhes permitia viver com fartura e ostentação enquanto havia pobres e miseráveis até mesmo entre cristãos verdadeiros.

Viviam, realmente, um “estilo de vida simples” (1Tm 6.8-10: “...tendo o que comer e o que vestirmos, estejamos com isso satisfeitos...”).

Ser pastor e cristão reformado é isso: pregar a doutrina de Cristo com fidelidade até as últimas conseqüências, amar a cada irmão, e não admitir nem aceitar a vida folgada financeiramente enquanto irmãos passam por toda espécie de privações.

João Calvino, o maior dos pastores reformados, era inteligente, muito culto, um verdadeiro “doutor”. Mas nem um instante deixou de identificar-se com os pobres, e por amor deles foi pobre também.

Hoje existe má distribuição de renda como nos dias de Calvino. Se somos realmente reformados, não podemos satisfazer-nos com o bonito discurso que fica só em discurso; temos que praticar o que pregamos. “Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes”, disse Jesus Cristo. Especialmente nós, pastores, temos que dar o bom exemplo de desprendimento, preocupação real com o pobre, e prática real do amor cristão bem definido por Tiago e João: “Não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade” (1Jo 3.18); “se um irmão ou irmã estiver necessitado de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês disser: `vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se´ sem, porém, lhe dar nada, de que adianta isso? ...Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta” e v.14: “acaso a fé (essa fé) pode salvá-lo?” (Tg 2.15-17). Não é uma questão de opção, questão de foro íntimo: ou somos integralmente cristão, ou não somos cristãos, ainda que imperfeitos. O que não é possível é conhecer as Escrituras e não a cumprirmos, exigindo isso dos outros. Leiam Mt 23.3.

Com tanta gente em nossas igrejas em extrema pobreza, estamos mesmo sendo “pastores reformados”? Ou apenas somos “bacharéis” e “doutores”?

Pior, ainda, se exigimos para nós uma situação financeira privilegiada, que no caso é ainda injusta e até desonesta. Temos que pensar nisso e agir coerentemente.

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