quinta-feira, setembro 27, 2007

O Culto de Casamento

A cerimônia religiosa de casamento é nada mais do que um culto que prestamos a Deus, através do qual pedimos que Deus abençôe o novo casal. É um culto com esse objetivo especial.

Só se realiza esse culto, na Igreja Presbiteriana, depois de feito o casamento perante o juiz de paz, no Cartório. A certidão é exigida pelo ministrante, sem a qual não podemos realizar o culto. (''Princípios de Liturgia", artigos 19 e 20).

Na "Constituição da Igreja" e no "Manual do Culto" nada é dito que impeça ou recomende a não-realização do culto quando um dos noivos não é membro da Igreja, ou mesmo quando os dois não o sejam. Mas diz o art. 18 do "Princípios de Liturgia": "Sobre o casamento realizado segundo as leis do país e a Palavra de Deus, o ministro, quando solicitado, invocará as bênçãos do Senhor".

Realizar ou não o culto de casamento nessas condições, tem ficado a critério dos pastores. Uns o fazem, outros não. Eu o faço, sempre.

Tenho realizado muitos cultos de casamento em que um dos noivos não é crente evangélico. Não estou, dessa forma, dando a entender que nada há contra o casamento misto. Nas ocasiões próprias ensino que o casamento misto deve ser evitado, pois isso é bíblico.

Porém, precisamos ponderar que, se a Igreja se negar a realizar o culto de casamento, nem por isso o casal deixará de casar-se; apenas fará o casamento civil e ficará magoado com a Igreja que se negou a pedir a bênção de Deus sobre ele. E isso tem acontecido muitas vezes.

Perguntará alguém: podemos pedir que Deus abençôe um casamento misto? Respondo: Sim, da mesma maneira que as Escrituras nos ensinam que devemos orar "por todos", crentes ou não, e isso fazemos. Deus pode transformar um mal em bem, tal a Sua misericórdia.

Sempre houve casamentos mistos na Igreja - veja 1Co 7.12-13 - inclusive porque de um casal não-crente, um se convertia e não devia abandonar o seu cônjuge não-cristão. E esse casamento, agora misto, podia ser abençoado por Deus com a conversão do "outro" e de seus filhos - 1Co 7.14. O mesmo continua acontecendo nos dias de hoje.

Precisamos alertar irmãos para que não se casem com pessoas não-cristãs, pois geralmente essa prática é um risco, especialmente para a vida espiritual da família; e as diferentes crenças vão ser mais um obstáculo para a harmonia do casal.

Tenho realizado inúmeros cultos de casamento de casais mistos, considerando que: 1. faço antes, com cada casal, um série de oito estudos bíblicos sobre o casamento e a vida familiar. Esses estudos são uma condição para que eu realize o culto; 2. através dos estudos evangelizo o casal ou aquele que não é crente; 3. retiro dos textos bíblicos ensinos preciosos sobre a vida matrimonial; 4. a Igreja está, dessa forma, dando ao casal um apoio espiritual, numa atitude caridosa e simpática; ao mesmo tempo dá ao casal condições de ser bem sucedido no seu casamento; 5. em cada culto de casamento prego o Evangelho a dezenas ou centenas de pessoas, muitas das quais pela primeira vez entram num templo presbiteriano e ouvem a Palavra de Deus.

Nossa missão é pregar e orar pelos homens para que a Palavra de Deus frutifique neles abundantemente. Só Deus sabe dos frutos que tem havido, mas tenho a certeza de não tenho pregado em vão.

Sobre a "bênção matrimonial", os "Principios de Liturgia da I.P.B.” dizem nos artigos 18 e 19: "Sobre o casamento realizado segundo as leis do país e a Palavra de Deus, o ministro, quando solicitado, invocará as bênçãos do Senhor. Para que se realize a cerimônia da impetração da bênção é imprescindível que o ministro celebrante tenha prova de que o casamento foi celebrado de acordo com os trâmites legais".

Os cultos de casamento são importantíssimas oportunidades para pregarmos o Evangelho a pessoas que só vêm à Igreja numa ocasião assim, toda especial. Usemos mais diligentemente essas oportunidades. Para isso a "mensagem" do ministrante não pode ser um "blá-blá-blá" romântico e inconsequente, como alguns que já ouvi, mas realmente mensagem do Evangelho.

"A minha palavra não voltará para Mim vazia" - Is 55.11. É Deus que nos dá essa certeza.


quinta-feira, setembro 20, 2007

Para que serve um pastor jubilado?

Há 55 anos, em Campinas, conheci os primeiros pastores jubilados: o Rev. Eduardo Lane, o Rev. Alberto Zanon. Em São Paulo conheci o reverendo João Paulo de Camargo, posteriormente Miguel Rizzo Jr., Avelino Boamorte, Jacob Silva e Boanerges Ribeiro, com os quais tive o privilégio de conviver algumas dezenas de anos.

Há 50 anos, um pastor jubilado eventualmente substituía o pastor regular em uma celebração de Ceia, de batismo ou de casamento. Com o passar do tempo, melhoraram os recursos médicos e as condições de vida, e subiu bastante a expectativa de vida útil de uma pessoa.

Hoje vários pastores jubilados, de que tenho conhecimento, prestam serviços à Igreja, quase em plena atividade – os reverendos Alcides Augusto de Matos, Aníbal Pereira, Joaquim Corrêa de Lacerda, Reinaldo Silva, Tiago Rodrigues Rocha, Osias Mendes Ribeiro e até eu.

Vimos de uma época diferente, somos contemporâneos de alguns dos grandes pastores que tornaram grande e gloriosa a Igreja Presbiteriana do Brasil. Participamos das comemorações do 1o centenário de nossa Igreja. Fomos testemunhas e também protagonistas de anos críticos pelos quais passou a Igreja. Há mais de 50 anos militamos nas lides do Evangelho; lutas grandes!

Não só trabalhamos muito, como também tivemos que batalhar contra movimentos que poderiam deturpar a Igreja e desviá-la de seu ministério. Encanecemos no trabalho árduo. Nenhum de nós viveu com grandes salários, mas nos acostumamos ao “estilo de vida simples”.

Com um certo espanto vemos grande parte da Igreja deixar-se influenciar por alguns modismos; pior do que isso, surpreende-nos o surgimento de conceitos modernos, nada bíblicos, a respeito do que deve ser a Igreja. Ao mesmo tempo que se moderniza, passa a preocupar-se muito com seu aspecto empresarial. Pastores que são mais administradores do que amigos e irmãos mais velhos das suas ovelhas; aos quais falta mais “alma de pastor”.

Então surgem choques nos concílios, que não são apenas choques de gerações, mas de idéias, conceitos e métodos. Nós insistimos em permanecer nos padrões bíblicos; que a Igreja seja antes de tudo Igreja mesmo, comunidade de santos e “família de Jesus Cristo”. Não nos deixamos iludir com uma “política de resultados”; insistimos em amar aos irmãos e ao próximo, pregando e praticando o Evangelho.

Tornamo-nos incômodos, muitas vezes.

Colegas que nunca iniciaram uma Igreja e nunca pastorearam um rebanho pequenino de gente simples, saem dos seminários com os olhos voltados para as igrejas grandes e é para lá que querem ir a todo custo.

Tornamo-nos incômodos, muitas vezes, negamo-nos a aderir a um evangelho diferente.

Mas há igrejas carentes de afetividade, de carinho paterno, necessitadas de Evangelho sem mistura. Algumas dessas querem o pastor idoso, jubilado, “irmão mais velho”.

Tornamo-nos incômodos: por que um pastor jubilado ocupa o lugar de um bem novo, cheio de idéias novas, que não é exigente a não ser do dízimo? Afinal, esse mais novo, instruído sobre administração, levará a Igreja a possuir logo um templo maior, um patrimônio mais sólido!

Nós queremos que a Igreja cresça espiritualmente e que sua prosperidade numérica e material seja fruto de fidelidade e não de conceitos modernos de administração; queremos que as igrejas se multipliquem em vez de se tornarem mega-igrejas; queremos que cada igreja siga o exemplo da Igreja Primitiva – na paixão pela evangelização, na simplicidade, no amor fraternal que não admite que haja necessitados na Igreja, porque ajuda “cada um conforme a necessidade de cada um”.

O pastor jubilado freqüentemente repete o episódio de Elias perante o incrédulo Acab. Este pergunta ao profeta: “És tu o perturbador de Israel?”, e então tem de responder como Elias: “Eu não tenho perturbado a Israel, mas tu...

Os preconceitos são sempre ruins. Não se pode ter preconceito contra o trabalho da mulher, contra o entusiasmo e a expansibilidade do jovem, nem contra o trabalho do idoso. Precisamos é estar firmados nos princípios bíblicos, da ética cristã; podemos ser conservadores sem ser retrógrados, e podemos ser modernos sem ser modernistas e seguidores de modismos.

Que a Igreja Presbiteriana do Brasil valorize o pastor de almas melhor preparado possível, mas nunca o substitua pelo que é apenas bacharel, mestre ou doutor. Que nossos seminários tenham como professores, ministros que antes de tudo sejam pastores provados e bem sucedidos, para poderem realmente formar pastores, pois é de verdadeiros pastores que a Igreja necessita.

quinta-feira, setembro 13, 2007

O Pastor Ideal

Jo 10.2, 4, 11, 14: “...o pastor das ovelhas... depois de conduzir para fora todas as suas ovelhas, vai adiante delas, e estas o seguem, porque conhecem a sua voz.” “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. O assalariado não é o pastor a quem as ovelhas pertencem. Assim, quando vê que o lobo vem, abandonas as ovelhas e foge. Então o lobo ataca o rebanho e o dispersa. Ele foge porque é assalariado e não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor, conheço as Minhas ovelhas e elas Me conhecem”.
1Tm 1.12: “Dou graças a Cristo Jesus, nosso Senhor, que me deu forças e me considerou fiel, designando-me para o ministério”.
2Co 12.15: “Assim, de boa vontade, por amor de vocês, gastarei tudo o que tenho e também me desgastarei pessoalmente”.
1Pe 5.2: “Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir”.
1Tm 5.1-2; 4.12: “Não repreenda asperamente o homem idoso, mas exorte-o como se ele fosse seu pai; trate os jovens como a irmãos; e as moças, como a irmãs, com toda a pureza” “...sê um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza”.
Sl 23.1: “O Senhor é o meu pastor, de nada terei falta”.
At 20.17 e 28: “De Mileto, Paulo mandou chamar os presbíteros da Igreja de Éfeso. ...Quando chegaram ele lhes disse: ...Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a Igreja de Deus...”
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Um dos mais sublimes e preciosos privilégios que Deus nos dá, é o de pastorear as Suas ovelhas, nossos irmãos. Pois quando Ele faz isso, está confiando a nós o cuidado das Suas ovelhas, por quem Ele deu a própria vida.
Por isso mesmo Deus escolhe os que Ele quer para serem os pastores do Seu rebanho. O perfil desses pastores nós podemos encontrar retratado nas Escrituras, e é lá que temos de procurá-lo. Se quisermos traçar um perfil segundo o nosso próprio pensamento, vamos acabar fazendo uma caricatura e não um retrato do Pastor.
O primeiro que nos vem à mente é o Salmo 23: o pastor que está atento a todas as necessidades das ovelhas, sem exceção, para que nada lhes falte. Não só as de natureza espiritual, mas também as de natureza física, material, afetiva e psicológica. Todas as carências das ovelhas são da preocupação do verdadeiro pastor, ainda que este não seja capaz de supri-las todas; mas o pastor precisa ter consciência delas e interceder junto a Deus pedindo os recursos necessários.
O próprio Cristo é o exemplo do pastor verdadeiro. João 10 nos fala de alguns traços desse Pastor:
primeiro, é aquele que “entra pela porta”. Não é um intruso, não se faz de pastor entrando para o pastoreio por um modo ilícito, nem por motivação ilícita; ele é chamado por Deus, como vemos em 1Tm 1.12: Deus chamou Paulo e o pôs no ministério;
segundo, é o pastor que as ovelhas conhecem e reconhecem – Jo 10.3 – porque convive com as ovelhas, identifica-se com elas;
terceiro, “dá a sua vida pelas ovelhas”: ele as ama e as serve conduzindo-as com bondade, paciência e até com sacrifício; carrega em seus ombros aquela que está frágil, debilitada; põe sua vida a serviço das ovelhas, porque são ovelhas do Sumo Pastor, que confiou nele para cuidar delas. Neste texto Cristo faz um contraste entre aquele que é pastor e aquele que não é: o mercenário, ou assalariado (que trabalha pelo salário), que tira proveito das ovelhas em vez de servi-las com desprendimento, serve-se delas;
quarto, é altruísta e não egoista - 2Co 12.15 e 1Pe 5.2 - não o move a ganância pelo salário alto, até extorsivo, nem o domínio que possa ter pelo autoritarismo, pelo personalismo. O verdadeiro pastor respeita suas ovelhas, e a personalidade de cada uma; procura ajudá-las sem violentá-las. Nunca usa o seu cajado de pastor para espancar as ovelhas, mas sim para defendê-las;
quinto – 1Tm 5.l-2 - no trato com os irmãos é delicado, justo, carinhoso. Ora se porta como filho, ora como pai, ora como irmão, mas sempre carinhoso, sem confundir carinho com pieguice;
sexto – 1Tm 4.12 - ele é um praticante do ensino das Escrituras e não um teórico pernóstico, é “exemplo na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza”.
Embora o ensino das Escrituras seja claro, há aqueles que formam seu próprio conceito de “pastor ideal”. Apontam qualidades que um pastor deve ter para cuidar bem do rebanho, como se essas qualidades fossem as essenciais, esquecendo-se daquelas que são ensinadas nas Escrituras, como vimos. Nesse esforço de traçar seu próprio perfil de pastor, falam mais de “líder” do que de servo. Acabam confundindo Igreja e Rebanho com uma empresa religiosa ou clube, uma organização puramente humana.
E então confundem Pastor com administrador. O pastor é, sim, um administrador, e esse é um sentido que tem o termo “bispo” = superintendente. Mas se o bispo não for também, e antes de tudo, um “ancião” dotado de maturidade e capacidade de amar como filho, irmão e pai, acabará sendo um empecilho para o crescimento espiritual e harmônico da Igreja; contribuirá para que ela seja empresa mas não igreja. Como Igreja ela poderá morrer, embora progrida como empresa; não é isso que o Senhor da Igreja quer.
Também destacam que o pastor tem que ser um mestre e doutor. E realmente o pastor deve ser mestre idôneo e competente, douto e não indouto, mas sê-lo para bem servir à Igreja e não para satisfazer seu narcisismo. Paulo, em Fp 3.8, lembrando que ele realmente era um fariseu e doutor, considerou essas coisas “como esterco, para que possa ganhar a Cristo”. O esterco é muito útil, mas a serviço do lavrador e não como um adorno. A vaidade torna estéreis e ridículas as pessoas que se deixam dominar por ela.
Finalmente, o pior que tem acontecido através dos tempos e acontece muito hoje, é deixar de cuidar da Igreja como Rebanho do Bom Pastor, e passar a administrá-la como empresa de onde retira o seu salário.
Quando isso acontece, esse “mestre” fala e ensina como o faziam também os fariseus. Sua ortodoxia é também farisaica, porque esquece que amor é um dos principais elementos da Lei; elemento sem o qual nada podemos fazer de bom.
Em resumo: a Igreja precisa de pastores, com muitas e diferentes qualidades: zelo, paciência, empatia, capacidade para amar a cada uma de suas ovelhas sem exceção, altruísmo, desprendimento, capacidade para administrar, fidelidade a Deus e às Escrituras, e sobretudo “ter alma de pastor” que Deus dá a quem Ele chama para esse ministério.
Vem à minha mente a lembrança de uma exortação feita pelo rev. Floyd Grady em Salvador, Bahia, num congresso nacional da mocidade presbiteriana: “Moço, se Deus o chamou para o ministério, por amor de Deus, venha! Mas se Deus não o chamou, pelo amor de Deus, não venha!
Pastor é aquele que Deus chamou, capacitou e colocou nesse ministério.
Verifique honestamente se você está no ministério para o qual Deus o designou. Se não está, não seja um tropeço. Corrija sua posição enquanto há tempo.

sexta-feira, setembro 07, 2007

Garcia das Sete Orelhas

(Este não é mais um estudo de meu pai. É uma história que ele ouvia de seu pai, meu avô Euphrosino, e que resolveu escrevê-la, a pedido de seus netos, para que não se perca. Por ser muito interessante, e contada por meu pai, considerei apropriado publica-la aqui)

Januário Garcia, no tempo ainda do sertão paulista, talvez lá pelas bandas da atual Altinópolis (SP), possuía uma fazenda com seu irmão.

Vizinha de sua fazenda, outra fazenda de uma famílía de sete irmãos. Animais dos Garcia passando para as terras vizinhas foi o motivo para a desavença entre as duas famílias.
Um dia os "sete irmãos" prenderam e mataram com maldade um dos Garci
a: amarram-no a uma árvore e tiraram-lhe o couro cabeludo.

Januário, o sobrevivente, jurou vingança. Bom ati­rador, saiu de casa à caça dos sete, que se dispersaram. Um a um, através de anos, foram sendo encontrados e mortos. De cada um, Januário cortava uma orelha e a prendia a uma fieira.

Passaram-se os anos e nem, a família tinha noticias de Januário; foi dado como morto, finalmente. A esposa, considerando-se viúva, casou-se outra vez.

Um dia, à tardinha, Januário andava por uma estrada, quando resolveu pedir pouso em um ranchinho ali existente. O morador era apenas uma velhinho que acolheu de boa vontade o andarilho desconhecido.

A noite começaram a conversar. O hospedeiro contou sua vida, inclusive como ele e seus seis irmãos mataram o vizinho Garcia. Sabia que seus irmãos já haviam sido caça­dos e mortos por Januário.

Quando terminou, Januário lhe perguntou solenemente: "Ó velho imprudente, por que me contaste tua história?
"Por que? - perguntou atônito o hospedeiro.

"Porque eu sou Januário Garcia!"
O velhinho caiu de joelhos e implorou: "Pelo amor de Deus, não me mate!".

Januário se comoveu e estabeleceu um jeito de resolver o problema: "Você foi bom para mim, me deu pouso e comida. Vou lhe dar uma oportunidade: amanhã bem cedo, quando o dia clarear, eu fico na porta, você conta cem passos e sai correndo; eu dou um tiro só. Se não acertar, você estará livre".

Certamente nenhum deles conseguiu dormir nessa noite. Quando o dia clareou os dois se postaram junto à porta. O irmão remanescente saiu contando os cem passos e correu. Garcia deu um tiro, o outro caiu. Garcia cortou a orelha do morto, enfiou-a na fieira.

Iniciou, então a volta para a casa.

Um dia, Januário, enquanto voltava, passou por uma fazenda, faminto. Bateu palmas na casa da fazenda, a dona atendeu mal humorada. "A senhora me dá um prato de comida?" Respondeu ela: “não tenho nada pra lhe dar, não!" "Então, por favor, faça um prato de sopa para mim com isto", e estendeu-lhe a fieira com as sete orelhas. Atônita, ela gritou "Nossa! Espere um pouco!" e entrou correndo. Pouco depois voltou e deu-lhe uma mesa farta.

Finalmente Januário voltou para casa. A noticia de seu retorno chegou primeiro. O novo marido de sua mulher, "deu no pé" e sumiu.


Os Garcia deixaram muitos descendentes; os mais antigos contavam essa história, como eu agora conto também. Meu pai a contava como fato acontecido. Quem pode duvidar?