sexta-feira, maio 28, 2010

A obra de Deus e o Trabalho - 6

O Trabalho e o Salário - Nas Escrituras também o salário é assunto frequente. Ainda no primeiro livro, o de Gênesis (31.7), encontramos Jacó reclamando de Labão melhor salário. Em 31.26, o insatisfeito Jacó está se demitindo; nos versículos 27 a 32 estão Jacó e Labão negociando um novo acordo sobre o salário de Jacó. Passaram-se anos e quando Jacó voltava para sua terra, ainda falava a Labão sobre a forma injusta de Labão dar-lhe o salário, embora Jacó tenha enriquecido durante aqueles 20 anos (31.38-41).
Em Êxodo 2.9 encontramos a filha do faraó contratando a mãe do recém-nascido Moisés para ser a ama do próprio filho, e dizendo: “eu te darei teu salário".
Em Isaías 1 Deus está repreendendo severamente o povo de Israel por sua incredulidade apesar de sua religiosidade exterior. Entre as palavras de repreensão, estão estas: “Os teus príncipes são rebeldes, e companheiros de ladrões; cada um deles ama as peitas, e corre após salários; não fazem justiça ao órfão e não chega perante eles a causa das viúvas”. Buscavam o salário, sem se preocuparem com o mais importante, a justiça. Em Is 19.10 está uma referência à incredulidade e maldade dos egípcios: “...e todos os que trabalham por salário ficarão com tristeza na alma”. É Deus mostrando que o salário - necessário e justo - não deve ser visto e procurado como a coisa mais importante, mas sim o objetivo do trabalho, que é a produção de bens materiais, morais e espirituais necessários ao bem comum. Trabalhar por amor ao dinheiro não é salutar, não é o verdadeiro objetivo do trabalho, é avareza.
São sugestivos estes textos de Provérbios 6.7: “Todo o trabalho do homem é para a sua boca, e contudo nunca se satisfaz a sua cobiça”. “O que amar o dinheiro nunca se fartará dele” (5.10).

(continua)

quarta-feira, maio 26, 2010

A obra de Deus e o Trabalho - 5

O Trabalho e a Comunidade - Crescendo e multiplicando-se as famílias, o trabalho comunitário foi uma consequência natural desse desenvolvimento. Em Gênesis 11.3-4, relato da tentativa de construção da Torre de Babel, encontramos referência ao trabalho da comunidade: “E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra e o betume por cal. E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra". Era um trabalho planejado e realizado por muita gente, uma comunidade que buscava um objetivo, infelizmente errado, que não teve a aprovação divina.
Gênesis 12 e 13 contam parte da história de Abrão e Ló, fazendo referência ao trabalho coletivo dos "pastores do gado de Abraão" e os "pastores do gado de Ló". Um trabalho de equipe, certamente.
O trabalho visa, também, o bem estar coletivo: que todos estejam recebendo aquilo que lhe seja necessário, ainda que alguns, por algum motivo, não estejam conseguindo prover o seu sustento.
Em Deuteronômio 15 encontramos a lei da remissão, o ano do perdão de qualquer dívida. E ali está a determinação de Deus para que o cidadão de Israel esteja disposto a socorrer o "irmão pobre": "...livremente lhe darás". "Pois nunca cessará o pobre do meio da terra, pelo que te ordeno dizendo: livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para o teu necessitado, e para o teu pobre da tua terra" (Dt 15.10). O demonstrativo teu, três vezes aí repetido, indica que o socorrido tem uma ligação real com o que o socorre; não é simplesmente um estranho, é o teu irmão, teu necessitado, teu pobre. Este é o texto citado por Jesus Cristo em Mateus 26.11. Alguns, porém, não lendo o texto todo, entendem que Cristo está dizendo que, por existirem sempre causas de pobreza, nada podemos fazer no sentido de resolver o problema quando, ao contrário, Cristo está nos apontando o ensino de Deuteronômio 15 como a solução que está ao nosso alcance: o socorro ao necessitado, não como um ato meritório, mas como uma obrigação social a ser cumprida livremente, de boa vontade. Por isso dissera antes, no versículo 7: "não endurecerás o teu coração". Em Efésios 4.28 Paulo recomenda que "aquele que trabalha (e ganha) reparta sua fazenda com o que tiver necessidade". É a comunidade se ajudando e trabalhando em busca do bem comum.

(continua)

sexta-feira, maio 21, 2010

A obra de Deus e o Trabalho - 4

Trabalho e família - Deus criou o ser humano - primeiro o varão (Gn 2.7) e depois a mulher - e registra o texto sagrado: “a trouxe a Adão” (v.22). Deus estava dessa forma instituindo a família, havendo antes providenciado a maneira como esta deveria ser sustentada..
Inicialmente “plantou um jardim no Éden”. Esse jardim era também um grande pomar com muitas árvores frutíferas.
A Adão, o primeiro a ser criado, “o Senhor Deus o tomou e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar”. Terra boa, árvores frutíferas e trabalho.
Antes mesmo de ser criada por Deus, Eva é referida como auxiliadora ou ajudadora (Gn 2.18). A mulher iria compartilhar o trabalho dado por Deus a Adão, como tudo em sua vida.
Era um trabalho suave, sem problemas. Depois da desobediência de Adão e Eva é que o trabalho se tornou penoso:
E a Adão disse (Deus): maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida.. Espinhos e cardos, também, te produzirá, e comerás a erva do campo. No suor de teu rosto comerás o teu pão...” (Gn 3.17-19).
Desde então a família participava do trabalho necessário a seu sustento. Na família, todos trabalhariam nos seis primeiros dias da semana e descansariam no sétimo. Percebe-se isso na leitura do texto do 4º mandamento, sobre o trabalho e o descanso:
Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado (ou descanso) do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo...
No Novo Testamento o trabalho também é referido como o meio designado por Deus para o sustento do homem:
...Se alguém não quiser trabalhar, também não coma. Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, outros fazendo coisas vãs. A esses tais, mandamos e exortamos por Nosso Senhor Jesus Cristo que, trabalhando com sossego comam o próprio pão” (não o alheio). 

(continua) 

terça-feira, maio 18, 2010

A obra de Deus e o Trabalho - 3

Trabalho e descanso - Trabalho, porém, não é um fim em si mesmo, nem a única ocupação do homem.
Há outras atividades, e o descanso também é necessário. Ao lado do trabalho deve existir o descanso. O 4º mandamento, que diz: “seis dias trabalharás”, diz também “no sétimo descansarás”.
A um certo período de trabalho deve seguir-se um outro, de descanso: seis dias de trabalho e um de descanso; algumas horas de trabalho e outras de repouso, como indica a própria natureza, na sucessão de dias e noites.
Trabalho, estudo, lazer, atividades domésticas, culto, períodos de sono, são diferentes e necessárias ocupações para obtenção de bem estar, equilíbrio e prosperidade.
O já citado 4º mandamento, quando se refere ao descanso, diz “não farás nenhuma obra”. O trabalho causa desgaste de energia e do próprio físico. O descanso visa a reconstituição das condições necessárias ao bem estar e ao próprio trabalho.
É interessante observar que descanso nem sempre é inatividade e estado de sono; mudança de atividade é também descanso. Quem estuda muito (trabalho intelectual) pode descansar passando para outro campo de estudo ou atividade física. A um trabalho intelectual pode seguir-se um trabalho físico e vice-versa.
No relato bíblico da criação está dito que Deus realizou Sua obra criadora em seis dias (períodos ou fases). E diz Gn 2.2: “Havendo Deus acabado no dia sétimo a Sua obra que tinha feito, descansou...
Jesus Cristo, porém, disse: “Meu Pai trabalha até agora e Eu trabalho também...” (Jo 5.17). Por isso entendemos que Deus está no 7º dia da Sua eternidade (embora eternidade não seja algo que se possa dividir em períodos de tempo). O que, fora de dúvida, se conclui, é que Deus não ficou inativo no “7º dia”, mas realiza outra obra, a da salvação do homem e a da sustentação do universo que criou. Essa outra atividade de Deus é aqui chamada descanso.
O descanso é determinado por Deus. É uma necessidade absoluta do homem, que não temos o direito de negar. Sob influência do mandamento e da própria experiência, a sociedade tem evoluído criando leis que garantam o descanso até durante o período de trabalho, conforme a atividade do trabalhador.


(continua)

sexta-feira, maio 14, 2010

A obra de Deus e o Trabalho - 2

Vejamos relações entre o Trabalho e outros aspectos importantes da vida humana.

Trabalho e Saúde - O trabalho, como atividade que visa produzir bens necessários à vida com boa qualidade, existe desde o início da vida humana, e foi ordenado por Deus.
Criado Adão no Jardim do Éden que, pela descrição bíblica - Gn 2.8-15 - não era apenas um jardim, mas um pomar, Deus não o deixou ocioso, apenas colhendo e comendo frutos das árvores; deveria também “lavrar e guardar a terra”. Guardá-la de animais predatórios que deveriam ser mantidos fora do jardim, e lavrar a terra para evitar que se transformasse num matagal inabitável.
Depois deste trabalho manual Deus lhe deu um trabalho de ordem intelectual: dar nomes aos animais; entende-se que às diferentes espécies de animais.
Foi Deus Quem instituiu o trabalho produtor de bens, com o qual o homem haveria de sentir-se realizado e útil.
A ociosidade o tornaria vazio, voltado para si mesmo, problematizado. O trabalho útil, construtivo e honesto torna a pessoa valiosa a seus próprios olhos, eleva a autoestima, preserva sua saúde mental e física. Muitos textos bíblicos mostram esse aspecto salutar do trabalho.
O Salmo 128 em seu versículo 2 relaciona trabalho e felicidade:
Pois comerás do trabalho das tuas mãos; serás feliz e tudo te irá bem”. Mas a ociosidade e a preguiça são apontadas como causas de carência e mal estar.
O que lavra a sua terra se fartará de pão, mas o que segue os ociosos está falto de juízo” (Pv 12.11) “Filho meu, atenta para as minhas palavras... guarda-as no meio do teu coração. Porque são vida para os que as acham, e saúde para o seu corpo.
Entre as palavras e mandamentos do Senhor está:
Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra...” (Êx 20.9)
Oh! preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono? Assim te sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade como um homem armado.” (Pv 6.9-11). “O desejo do preguiçoso o mata, porque as suas mãos se recusam a trabalhar” (Pv 21.25). 


(continua)

quarta-feira, maio 12, 2010

A obra de Deus e o Trabalho - 1

A OBRA DE DEUS COMO FRUTO DO TRABALHO

A Bíblia é onde encontramos os princípios que devem reger todos os relacionamentos do ser humano: do homem com Deus, do homem consigo mesmo e com o próximo, de marido e esposa, de pais e filhos, de irmãos, de governantes e governados, de patrões e empregados, de companheiros de trabalho, etc.
Em todos os nossos relacionamentos existem pontos de atrito, interesses que se chocam e oportunidades em que o “ego” de cada um luta para afirmar-se ou defender-se, ou renuncia a algo que desejava, por algum outro valor.
Quem conhece e compreende princípios e por eles se guia, livra-se da escravidão às regras criadas pelo próprio homem, ainda que submisso a elas. Está capacitado a superar e ultrapassar as regras humanas, porque princípios são melhores do que regras. Aqueles estão na consciência moral do ser humano e da coletividade; são universais e permanentes.
No mundo em que o imediatismo se casa perfeitamente com o materialismo prático, a tentação de passar por cima, tanto de regras como de princípios, é frequentemente irresistível para muitos. Então surgem as traições, os métodos escusos, as espertezas e os mais terríveis conflitos. Quando uma pessoa se orienta pelos princípios - que são universais e permanentes ela vive melhor. Evita problemas e isto se reflete beneficamente em sua saúde.
tanto mental como física. Por esta razão o apóstolo João, ao se referir aos mandamentos divinos, aos quais subjazem os princípios éticos que Deus colocou na consciência moral do ser humano criado à Sua imagem e semelhança, faz esta recomendação e ponderação: “...guardemos os Seus mandamentos; e os Seus mandamentos não são pesados” . (1Jo 5.3).
Moisés pondera, também, sobre a razão por que Deus deu mandamentos: Agora, pois, ó Israel, que é o que o Senhor teu Deus pede de ti, senão que temas o Senhor teu Deus, que andes em todos os Seus caminhos, e O ames, e sirvas ao Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, para guardares os mandamentos do Senhor, e estatutos, que hoje te ordeno para o teu bem?” (Dt 10.12-13).


(continua)

sexta-feira, maio 07, 2010

Pelo Dia das Mães, um poema de mãe

Esta poesia foi escrita há muitos anos pela minha esposa, M. Aparecida. Ficou guardada em meio a montanhas de papeis até nossa recente mudança para Sorocaba, quando foi achada por acaso, junto a outros poemas:

Sorrir

Se um dia eu quiser sorrir
mas não sentir 
a beleza do céu
do mar
das aves
das flores

Se um dia eu quiser sorrir
mas não sentir
o calor dos amigos
dos filhos
dos netos
meus amores

Se um dia eu quiser sorrir
mas não sentir
a alegria da paciência
da atenção
do carinho
de um amor

Se um dia eu quiser sorrir
mas não sentir
a certeza da fé
da esperança
da salvação
no Senhor

Não devo sorrir
não será um sorriso
mas um gesto vago
mecânico
sem sentido
sem valor

terça-feira, maio 04, 2010

Unidade na diversidade



A frase acima é democrática e cristã. Na teologia cristã a única uniformidade biblicamente exigível é em torno das doutrinas básicas da fé cristã, por exemplo: monoteísmo, soberania de Deus, a Escritura como única base de fé, só a fé como meio de salvação, a graça como causa da salvação, Cristo como único redentor e salvador. A negação ou alterações nessas e algumas outras doutrinas, resultam em erros doutrinários, muitas vezes trágicos.
Isto não significa, porém, que tudo o mais será permitido e aceito pacificamente por todo cristão sobre as mais diferentes doutrinas e práticas, secundárias mas importantes; por exemplo: circuncisão, forma de batismo (de adultos e crianças), dízimo, a Ceia do Senhor, governo de igreja, responsabilidade social da Igreja, liturgia, etc.
Sobre cada um desses, e muitos outros pontos doutrinários, existem os mais diferentes conceitos e práticas, com algum embasamento bíblico, distorcido ou não.
Por isso mesmo é que existem, desde os tempos da Reforma do século XVI, diferentes denominações, a começar com a luterana e a reformada (calvinista).
Se quiser sobreviver como tal, cada denominação ou ramo eclesiástico tem que ter e manter sua Confissão de Fé ou Base de Fé, bem como seus costumes e métodos claramente estabelecidos, inclusive a liturgia.
Igrejas ou denominações que não adquirem ou não mantêm uma identificação clara e definida, tendem ao seu próprio esfacelamento. A liturgia (cuja importância muitas pessoas minimizam), ou é um fator de fortalecimento e unidade, ou é uma brecha perigosa pela qual entra toda sorte de heresias, que comprometem sua identidade e estabilidade, na mesma medida em que conservam seus princípios litúrgicos ou não.
Uma Igreja, como outras instituições, pode ser conservadora sem ser retrógrada; e pode modernizar-se nos métodos e costumes, sem deixar os princípios bíblicos permanentes em que se assenta.
Existe, porém, um gosto pela modernidade, que se torna perigoso. Inversão de valores pode por isso ocorrer, pondo em risco toda a igreja.
É nosso dever estar sempre atentos e vigilantes para conservar o que é insofismavelmente bíblico, bem como para rejeitar tudo o que possa comprometer a própria fé e a natureza da Igreja. Nem tudo o que é antigo é bom, e nem tudo o que é moderno é saudável. O critério a ser aplicado é a conformidade com o ensino bíblico. Rejeite-se tudo que não se harmonize claramente com o ensino bíblico.
Há quase 500 anos a Igreja Presbiteriana é uma bênção no mundo; mas algumas Igrejas que conservam o nome de presbiterianas perderam o seu caráter e não são mais o que eram.
A Igreja Presbiteriana do Brasil também corre esse risco. Deve voltar a ser cuidadosa no preparo intelectual de todos os seus membros, especialmente de seus pastores, tendo o cuidado de não colocar o bacharelismo e o “peagadismo” acima da piedade, que “para tudo é proveitosa”.
A Igreja continua precisando de teólogos-pastores e não de diletantes sem compromisso sério com Cristo e Sua palavra.
Pastor é aquele que usa corretamente o seu cajado para defender o rebanho e nunca coloca acima desse cajado os seus diplomas de bacharel, mestre e doutor. Formar “teólogos” sem alma e zelo de pastor é contraproducente.