Tomo emprestado o título de artigo no “Estado de S. Paulo”, de 24/4/06.
Domingos Pellegrini, o autor, foi militante da dissidência do PC; nada tinha de simpatia pela “ditadura”, o regime duro dos governos militares de 64 a 84.
Fala ele de algumas mazelas do regime real da vida política e social do Brasil de hoje, e não esconde sua decepção com o tipo de democracia de hoje.
Em filme apresentado há poucos dias, foi recordada a luta dos que repudiavam a “ditadura”; muito interessante, porém parcial, pois nada mostrava dos abusos de políticos de então, quanto à sua desonestidade e falta de patriotismo. Um exemplo: o regime militar se instalou em 1964, destituiu ditatorialmente muitos governantes corruptos, ainda que tenha também cometido enganos e injustiças; moralizou muita coisa no âmbito econômico. Pois, apesar disso, em 1968 (apenas 4 anos haviam se passado), os “políticos” deram motivo para que o AI 5 fosse editado. Um dos fatos: Assembléias Legislativas realizavam diariamente várias reuniões, pois os srs. deputados recebiam “jeton” em cada reunião que realizavam; chegou ao cúmulo de uma Assembléia (se não me engano de Alagoas), realizar 11 (onze) reuniões extraordinárias em um só dia!
Os maus políticos “postos de castigo” em 1964, mereceram esse novo castigo em 1968. Não havia como deixar de aplaudir o “governo discricionário”.
Ao lado disso, nos seus primeiros anos, os governos conseguiram melhorar algo na vida do país e seus cidadãos. O Brasil chegou a ser a 8a economia do mundo, passou a exportar de tudo o que produzia; as obras de infra-estrutura foram muitas e de grande porte. A indústria nacional se desenvolveu muitíssimo, sem se descuidar da agricultura. Mas, passados apenas 10 anos, a corrupção já havia se reinstalado na vida pública. A “cultura de corrupção” não chegou a ser extinta e substituída por uma cultura de honestidade e civismo. A corrupção só tem aumentado. Pouco adiantou o regime militar, pouco adiantou a democracia restabelecida.
O Brasil está se transformando em um “barril de pólvora”; a guerra civil pode realmente acontecer. Lembro-me de que um governante mineiro, há algumas décadas, disse um dia: “Façamos a revolução antes que o povo a faça”!
Verdadeira Revolução não tem que ser sangrenta; mas tem que ser feita por governo forte, que tenha sobretudo força moral para realizar as transformações profundas que caracterizam uma verdadeira Revolução. Fora disso, temos apenas quarteladas, mudança de mandantes, injustiças e nada mais.
Como cristão presbiteriano sempre fui democrata convicto e abomino toda forma de ditadura. O que temos hoje no Brasil é uma múltipla ditadura: dos governantes desonestos impondo sua vontade autocrática sobre o povo; dos capitalistas selvagens – banqueiros, etc. – que pensam que está certo enriquecerem-se cada vez mais, embora 50% do povo empobreça cada vez mais, e milhões de pessoas estejam apenas sobrevivendo em extrema miséria. Isso tudo é ditadura!
Políticos, ponham isso em sua mente: “Façamos a Revolução necessária antes que o povo a faça” pela força bruta, por vingança sangrenta como foi na Revolução Francesa. Só assim todos poderão viver com dignidade e muitos passarão a viver também com suas consciências em paz.
(Rubens Pires do Amaral Osório, maio de 2006
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