quinta-feira, março 29, 2007

Carência Afetiva

Quando Deus nos ensina e determina - no imperativo - “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Levítico 19.18), está nos ensinando que o amor é a maior necessidade terrena do ser humano.

Em Seu ministério no mundo Jesus Cristo ensinou a mesma verdade: “O Meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como Eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos (Jo 15.12-13). “Amigo” vem do verbo amar: é aquele a quem amamos, e aquele que nos ama.

Jesus não ensinou só com palavras; Ele amou mais do que qualquer de nós é capaz. Amou os leprosos segregados da sociedade, os publicanos e as meretrizes, olhados como as piores pessoas da sociedade; amou os fariseus, religiosos legalistas, frios, geralmente hipócritas; deu a vida também por Judas, o traidor e por Pilatos que O entregou para ser crucificado.

Ele tinha a capacidade de se comover e chorar, como por ocasião da morte de Lázaro, seu amigo: “Jesus, pois, quando viu Maria (irmã de Lázaro) chorar, e chorando os que com ela vinham, moveu-se muito em espírito e perturbou-se. Jesus chorou (Jo 11.33-35). Diante da incredulidade da maioria da população de Jerusalém, “Quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre ela” (Lc 19.41).

Ao ser procurado por um homem rico, interessado na “vida eterna”, mas apegado aos bens terrenos, Jesus, antes de responder a sua indagação, antes de tudo “Jesus, olhando para ele, o amou e disse: falta-te uma coisa: vai, vende tudo... dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, segue-Me” (Mc 10.21).

No sermão da montanha nos exorta e desafia: “Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e perseguem” (Mt 5.43-44).

Sabemos tudo isso. Mas pomos isso em prática?

Infelizmente, não! A maioria substitui o amor pela paixão carnal; pensam que amam os que lhes dão prazer carnal. Sexo nada tem a ver com o amor ensinado por Deus!

Outros substituem o amor por suas “atitudes inteligentes”. De que modo? O apóstolo João, compreendendo melhor do que nós o que é o amor, ensina-nos: “Quem tiver bens do mundo e vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as entranhas, como estará nele o amor de Deus? Não amemos de palavra, nem de lingua, mas por obra e em verdade” (1a. Carta de João 3.17-18). Teorizam inteligentemente e nada fazem!

Tiago, o irmão de Jesus, ensina o mesmo: “Se o irmão e irmã estiverem nús, e tiverem falta de mantimento cotidiano e algum de vós lhe disser: ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos, mas não lhe derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma” (Tg 2.16-17).

Sabemos, mas temos medo de ser explorados por aquele que pede; temos medo de gastar com ele, aquilo que no fim vamos esbanjar no “shopping”, nas futilidades, ou que vamos apenas “entesourar”. É ainda Cristo quem nos adverte no sermão da montanha: “Não ajunteis tesouros na Terra... ajuntai tesouros no céu” (Mt 6.19-20).

A maior carência da humanidade, hoje, é a carência afetiva, além da carência material. Há muitos que dão dinheiro, sim, dinheiro e outros bens materiais, até mesmo para aliviar um pouco a sua consciência; mas negam amor. Quantos filhos carentes recebem dinheiro, casa, carro e outros bens, mas não recebem dos pais afeto, carinho e o verdadeiro amor. Assim também até dentro das igrejas - tratamos irmãos a uma certa distância. Temos medo de amar, temos vergonha de nos emocionar e chorar!

Amor não cega ninguém. O que cega é a paixão por coisas, por dinheiro, e também por pessoas; e paixão não é amor. O amor oferece e dá; a paixão é egoísta, possessiva, exigente.

O amor verdadeiro é inteligente, não é pieguice nem sentimentalismo. O amor cristão age com inteligência e por isso age.

Se alguém quer amar assim, ame sobretudo a Deus. Um “doutor da Lei” interrogou a Jesus: “Mestre, qual é o grande mandamento na Lei? E Jesus lhe disse: ‘amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento’. Este é o 1º e grande mandamento. E o 2º, semelhante a este, é: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’ ” (Mt 22.35-39). Primeiro amar a Deus para poder amar o próximo.

Não feche a sua mão; socorra o necessitado. Mas se você lhe der apenas “coisas”, sem amor, você não lhe terá dado o principal. E há aqueles, aos milhões ao nosso redor, que nem sequer estão precisando de “coisas”, mas estão precisando urgentemente de alguém que os ame - com uma palavra animadora, um gesto carinhoso, um abraço leal; alguém que esteja disposto a ouvir seus lamentos e orientá-lo; que esteja disposto a ajudá-lo a levar sua carga. É o que Paulo ensina: “Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo” (Gl 6.2).

Não fique se poupando, com dó de si mesmo. Não tenha medo de amar e dar. Conheça o verdadeiro amor. Leia a Primeira Carta de Paulo ao Coríntios, 13.1-13, um verdadeiro “hino ao amor”. Ponha-o em ação.

Um belo discurso sobre o amor, sem a prática, pode ser hipocrisia.

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