Há 55 anos, em Campinas, conheci os primeiros pastores jubilados: o Rev. Eduardo Lane, o Rev. Alberto Zanon. Em São Paulo conheci o reverendo João Paulo de Camargo, posteriormente Miguel Rizzo Jr., Avelino Boamorte, Jacob Silva e Boanerges Ribeiro, com os quais tive o privilégio de conviver algumas dezenas de anos.
Há 50 anos, um pastor jubilado eventualmente substituía o pastor regular em uma celebração de Ceia, de batismo ou de casamento. Com o passar do tempo, melhoraram os recursos médicos e as condições de vida, e subiu bastante a expectativa de vida útil de uma pessoa.
Hoje vários pastores jubilados, de que tenho conhecimento, prestam serviços à Igreja, quase em plena atividade – os reverendos Alcides Augusto de Matos, Aníbal Pereira, Joaquim Corrêa de Lacerda, Reinaldo Silva, Tiago Rodrigues Rocha, Osias Mendes Ribeiro e até eu.
Vimos de uma época diferente, somos contemporâneos de alguns dos grandes pastores que tornaram grande e gloriosa a Igreja Presbiteriana do Brasil. Participamos das comemorações do 1o centenário de nossa Igreja. Fomos testemunhas e também protagonistas de anos críticos pelos quais passou a Igreja. Há mais de 50 anos militamos nas lides do Evangelho; lutas grandes!
Não só trabalhamos muito, como também tivemos que batalhar contra movimentos que poderiam deturpar a Igreja e desviá-la de seu ministério. Encanecemos no trabalho árduo. Nenhum de nós viveu com grandes salários, mas nos acostumamos ao “estilo de vida simples”.
Com um certo espanto vemos grande parte da Igreja deixar-se influenciar por alguns modismos; pior do que isso, surpreende-nos o surgimento de conceitos modernos, nada bíblicos, a respeito do que deve ser a Igreja. Ao mesmo tempo que se moderniza, passa a preocupar-se muito com seu aspecto empresarial. Pastores que são mais administradores do que amigos e irmãos mais velhos das suas ovelhas; aos quais falta mais “alma de pastor”.
Então surgem choques nos concílios, que não são apenas choques de gerações, mas de idéias, conceitos e métodos. Nós insistimos em permanecer nos padrões bíblicos; que a Igreja seja antes de tudo Igreja mesmo, comunidade de santos e “família de Jesus Cristo”. Não nos deixamos iludir com uma “política de resultados”; insistimos em amar aos irmãos e ao próximo, pregando e praticando o Evangelho.
Tornamo-nos incômodos, muitas vezes.
Colegas que nunca iniciaram uma Igreja e nunca pastorearam um rebanho pequenino de gente simples, saem dos seminários com os olhos voltados para as igrejas grandes e é para lá que querem ir a todo custo.
Tornamo-nos incômodos, muitas vezes, negamo-nos a aderir a um evangelho diferente.
Mas há igrejas carentes de afetividade, de carinho paterno, necessitadas de Evangelho sem mistura. Algumas dessas querem o pastor idoso, jubilado, “irmão mais velho”.
Tornamo-nos incômodos: por que um pastor jubilado ocupa o lugar de um bem novo, cheio de idéias novas, que não é exigente a não ser do dízimo? Afinal, esse mais novo, instruído sobre administração, levará a Igreja a possuir logo um templo maior, um patrimônio mais sólido!
Nós queremos que a Igreja cresça espiritualmente e que sua prosperidade numérica e material seja fruto de fidelidade e não de conceitos modernos de administração; queremos que as igrejas se multipliquem em vez de se tornarem mega-igrejas; queremos que cada igreja siga o exemplo da Igreja Primitiva – na paixão pela evangelização, na simplicidade, no amor fraternal que não admite que haja necessitados na Igreja, porque ajuda “cada um conforme a necessidade de cada um”.
O pastor jubilado freqüentemente repete o episódio de Elias perante o incrédulo Acab. Este pergunta ao profeta: “És tu o perturbador de Israel?”, e então tem de responder como Elias: “Eu não tenho perturbado a Israel, mas tu...”
Os preconceitos são sempre ruins. Não se pode ter preconceito contra o trabalho da mulher, contra o entusiasmo e a expansibilidade do jovem, nem contra o trabalho do idoso. Precisamos é estar firmados nos princípios bíblicos, da ética cristã; podemos ser conservadores sem ser retrógrados, e podemos ser modernos sem ser modernistas e seguidores de modismos.
Que a Igreja Presbiteriana do Brasil valorize o pastor de almas melhor preparado possível, mas nunca o substitua pelo que é apenas bacharel, mestre ou doutor. Que nossos seminários tenham como professores, ministros que antes de tudo sejam pastores provados e bem sucedidos, para poderem realmente formar pastores, pois é de verdadeiros pastores que a Igreja necessita.
3 comentários:
Um pastor jubilado serve para rejubilar-se com os irmãos em Cristo por tudo o que Deus fez e faz nele e através dele, e da sua família... Serve também para orientar os jovens na carreira cristã, pelo relato de suas experiências com Deus. Beijos,Carmen Sílvia.
Muito bom! nós precisamos de pastores, nao de "reverendos". Precisamos de pastores que alimenten e cuidem das ovelhas, nao de pastores que se alimentan das ovelhas. Por isso, o pastor jubilado com sua vasta experiencia ainda é util na seara do Senhor. - Pb. Ronaldo R. Soares
Bom artigo! Precisamos pensar e repensar o ministério pastoral à luz da Bíblia! José Normando Gonçalves Meira (Ministro Presbiteriano)
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