MOISÉS  E  A  TERCEIRA  IDADE
      Do ser humano em geral, Moisés diz: “a duração de nossa vida é de 70 anos e se pela sua robustez alguns chegam a 80 anos, o melhor deles é canseira e enfado”.  E assim é com o homem natural.
      Mas do “justo”, isto é, daquele que “teme ao Senhor e anda nos Seus caminhos” (Sl 128.1), diz a Escritura no Salmo 92: “O justo florescerá como a palmeira, crescerá como os cedros no Líbano.  Os que estão plantados na casa do Senhor florescerão nos átrios do nosso Deus.  Na velhice ainda darão frutos, serão viçosos e florescentes, para anunciarem que o Senhor é reto” (Sl  92.12-14).
      Como cristão, não posso duvidar de coisa alguma que a Palavra de Deus diz, inclusive do que diz a meu respeito, e deve pensar assim cada um de nós.
      Essa responsabilidade têm especialmente os que desde cedo conheceram os “caminhos do Senhor” e neles andaram; nós os conhecemos e, melhor do que ninguém, sabemos que são caminhos “retos” que nos conduzem em segurança.
      O acúmulo de anos é também acúmulo de santas alegrias e experiências que não podem ser desdenhadas por nós mesmos e por ninguém.  Importa é que em nós elas se tornem bom  senso, sabedoria.
      Fomos “plantados” na Casa do Senhor; não por nós mesmos, mas por Deus que, por Sua graça e misericórdia nos escolheu.  Não temos o direito de desprezar e tornar inútil esse patrimônio intelectual, moral e espiritual.
      Por causa da idade não estamos mais “em condições”?.  Estamos sim, todos aqueles que o Senhor conservou com corpos sadios e mentes sadias: “Mens sana in corpore sano”.
      Essa lição é exemplificada nas vidas do próprio Moisés, de Josué, de Abraão, de Davi, Salomão, Samuel e tantos outros, ainda que não saibamos quantos anos viveram na velhice.
      “Ninguém despreze a tua mocidade”, escreveu Paulo a Timóteo - 1Tm 4.23 - e “não desprezes o dom que há em ti” - 4.14.  Seja qual for a nossa idade, Ele pode nos usar e usa realmente.  Ninguém despreze a velhice dada por Deus.
      Moisés foi preparado por Deus: 40 anos na côrte do Egito, 40 anos no deserto de Midiã (Ex 3.1).  Moisés poderia pensar que sua vida não tinha sentido, mas ao 80 anos Deus o chamou, enviou, capacitou e o dirigiu no grande trabalho que reservara para ele; seria ele mesmo, e não  outro, apesar de suas limitações.
      Quando alguém fala de minha “terceira idade” e como eu deveria gozar a aposentadoria, não me envolvendo mais com os problemas (“alheios?) do povo de Deus e de Sua Igreja, costumo lembrar em tom de brincadeira: “Moisés começou aos 80 anos, eu nem cheguei lá ainda...”  Mas sem brincadeira, posso repetir o ensino das Escrituras: “serão viçosos e florescentes, na velhice ainda darão frutos”.  E pela graça de Deus certamente não serão frutos amargos, como os de muitos outros.  Recentemente tivemos os exemplos de Haroldo Cook, que com 100 anos ainda ia ao púlpito e pregava; de Boanerges Ribeiro, que com 83 anos fazia o mesmo e escrevia livros  de grande valor.
      Quando a Igreja Presbiteriana do Brasil criou o “Curso Intensivo de Teologia” destinado a homens maduros, convidei alguns que já estavam aposentados para fazerem o Curso e realizarem o ministério que Deus lhes desse; vários fizeram isso, e serviram bem ao Senhor, como ministros da Palavra, após os 50 ou 60 anos de idade.
      Aposentadoria sim, jubilação sim, mas inatividade não!  Não temos o direito do esportista que, chegando à maturidade, “pendura as chuteiras”.  “O exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa” - 1Tm 4.8.  Não pode o cristão considerar inútil o patrimônio que Ele deu ao Seu servo que chegou à maturidade ou à velhice.  A imaturidade é que é perigosa e às vezes trágica.
      Mas como é gostosa a velhice dada e dirigida por Deus!  Deus pode fazê-la também frutífera, para felicidade nossa e para glória dEle.
(Rubens Pires do Amaral Osório, 76 anos) 2003