sexta-feira, março 10, 2006

Fatos Que Precisam Ser Contados

FATOS QUE PRECISAM SER CONTADOS (uma pequena biografia)

“...O que ouvimos e aprendemos, o que nossos pais nos contaram,
não os esconderemos aos nossos filhos; contaremos à próxima geração,
os louváveis feitos do Senhor, o Seu poder e as maravilhas que fez...”- Sl 78.3-4

I. UM TESTEMUNHO PESSOAL

Quando o Salmo 126 proclama: “Grandes coisas fez o Senhor por nós”, está falando dos grandiosos feitos de Deus em favor de Seu povo, realizando Seus planos, a despeito das deficiências de Seus servos, mas ao mesmo tempo usando-os como Seus instrumentos.
Quando Ele chamou Moisés não foi porque Moisés fosse o homem capaz para a tarefa; por isso mesmo preparou Moisés com os conhecimentos recebidos na corte do Egito por 40 anos, adestrando-o ainda por outros 40 anos no deserto, nas terras de Mídia, para depois encarregá-lo da grande proeza que realizaria, já aos 80 anos, com o poder e a direção de Deus mesmo. Através dos milênios Deus continua realizando esse prodígio. “Grandes coisas” faz o Senhor por nós; em nosso favor e por meio de nós.
Os fatos que quero relatar tem o objetivo de testemunhar que Ele continua usando Seus servos hoje – para tarefas de todas as dimensões, mas fatos que só se explicam pelo poder de Deus. Com 79 anos de idade, depois de 52 anos ininterruptos de ministério, pastoreando cerca de 20 Congregações e Igrejas, não posso deixar de escrever meu testemunho pessoal do que Deus tem feito em minha vida e de minha família, sem a qual certamente pouco poderia ter feito.

II. DEUS CHAMA E USA QUEM ELE QUER

“Eu não era profeta, nem filho de profeta, mas boiadeiro e cultivador de sicômoros... mas o Senhor me disse: vai e profetiza ao Meu povo”. (Amós 7.14-15)

Meu pai foi um homem comum, de bom caráter, rico até os 60 anos, fazendeiro, delegado de Polícia e Prefeito de Monte Azul Paulista. Pai de 23 filhos de 2 casamentos, nada teve de excepcional. Conheceu o Evangelho por meio da 2a. esposa, minha mãe. Freqüentou a I.P. de São Carlos durante algum tempo, mas nunca deixou de ser católico romano.
Aos 60 e poucos anos perdeu todos os seus bens, com exceção da casa em que morávamos. Vivemos com o salário de minha mãe e dinheiro da venda de goiabada e geléia de mocotó, feitas em casa, cinco anos em S. Carlos; sete anos vivemos em S. Paulo e seis em Santos e S. Vicente, locais em que tivemos uma Pensão Familiar dirigida por meus pais, até mudarem-se para Campinas, pouco antes de casar-me. Depois de cerca de 1 ano mudaram-se para São Paulo, onde viveram até morrerem, ele com 94 anos, ela com 76.
Fui batizado em São Carlos, aos 5 aos de idade, pelo Rev. Luis Rodrigues Alves.
Minha mãe, Ambrosina, foi cristã convicta e fiel. Educou os 4 filhos “no Evangelho”. Fui o 20o. filho de meu pai, 3o. de minha mãe; ele com 60 anos, ela com 33. Nasci em 1927. De 1937 até 1945 fui aluno da Escola Dominical de I. P. Unida de S.Paulo, onde professei a Fé dia 22/8/43 junto com mais 126 irmãos após uma Campanha Evangelística em que pregaram os pastores da Igreja: Rev. Miguel Rizzo Jr. e Rev. Mário de Cerqueira Leite Jr.. Meus professores na Escola Dominical foram: D. Maria Azevedo, Jurandy Mendes, Samuel Martins Barbosa e Saulo de Castro Ferreira (estes dois quando ainda eram alunos do Instituto “JMC” em Jandira), Dr. Walter Schutzer, Dr. Joel de Almeida, Armando M. Varella. Certamente devo muito a eles a minha formação cristã.
Na pensão de meus pais, a partir dos 10 anos de idade, fui lavador de pratos, arrumador de quartos e encerador de assoalho, além de ajudar meu pai nas compras de feira. Cresci trabalhando e me acostumei a trabalhar de boa vontade.
Aos 15 anos comecei a trabalhar no meu primeiro emprego. Fui office-boy e auxiliar de escritório por dois anos, e um ano como auxiliar de escritório na secretaria da Igreja Unida. Aos 18 anos fui para Santos, onde fui bancário e funcionário do Centro de Saúde. Em Santos foram meus pastores os Revs. Agostinho Carvalhosa, Aureliano Lino Pires, Boanerges Ribeiro e Alfredo T. Stein. Cada um deles exerceu boa influência sobre mim.
Na Igreja Presbiteriana de Santos conheci Maria Aparecida Marinzeck de Lima e depois de 5 anos de namoro e noivado, casamo-nos quando eu já era seminarista, no fim do 2o.ano do Curso. Estamos unidos pelo casamento há 55 anos. Temos 2 valiosos filhos, Rubens e Priscila Márcia, ambos atuantes na AB.U. e na Visão Mundial, na sua juventude.

III. ATUANDO NA U.M.P.

A U.M.P. da Igreja de Santos era pequenina, mas muito ativa. Recebeu-me carinhosamente e logo passei a participar ativamente dela.
Já havia o costume de confraternizar-se com as Sociedades de Jovens de outras Igrejas, em ocasiões especiais. Mas toda 2a. feira os jovens da U.M.P. de Santos se reuniam às 20 horas para uma reunião de oração, após a qual jogava-se voleibol, ping-pong e se conversava. Jovens de outras igrejas passaram a freqüentar essas reuniões, as amizades entre jovens de diferentes igrejas se fortaleciam, com reflexo positivo na vida espiritual deles. Fui Presidente da U.M.P.
As sociedades dos Jovens das Igrejas Presbiteriana, Metodistas (2), Congregacional, Episcopal e Batistas (2) começaram a se convidarem mutuamente para eventos nas diversas Igrejas. Geralmente havia um culto, após o qual se realizava uma reunião social.
Então surgiu-me a idéia de criar-se uma entidade que unisse permanentemente essas sociedades: um Grupo de Confraternização da Mocidade Evangélica de Santos –GCMES.
Lançada a idéia, teve aceitação unânime. Criou-se oficialmente o novo órgão, o Grupo de Confraternização da Mocidade Evangélica de Santos.
O que aconteceu, em conseqüência, foi notável e de muito valor. O GCMES passou a realizar em um sábado de cada mês uma reunião de confraternização, cada mês em uma das igrejas de Santos. O programa de sempre: um culto no início, quando pregava um dos pastores de Santos; em seguida, uma reunião social com “brincadeiras de salão”, até as 22 horas. Os jovens faziam amizades fortes dentro das igrejas; amigos não-crentes eram convidados e assim também evangelizados. O sucesso dessas reuniões foi tão grande e bom, que por iniciativa própria cada sociedade passou a promover reuniões desse tipo em sua Igreja e convidava as outras. Resultado: todos os sábados havia reuniões de confraternização dos jovens evangélicos de Santos, em alguma Igreja. Quantos namoros e casamentos entre os jovens crentes resultaram, é impossível saber, mas foi um dos bons resultados.
Fico pensando: não é isso ou coisa semelhante que está faltando nas atividades dos jovens das igrejas hoje? Que bom se houvesse essa confraternização entre os nossos jovens! Uma recreação sadia, em ambiente sadio da própria Igreja, acompanhada de estudos de assuntos de interesse dos jovens, concursos bíblicos e muitas outras atividades interessantes e salutares podem ser realizadas. Será, inclusive, uma oportunidade para lideranças jovens despontarem.
Para mim foram 3,5 anos de atividade na Igreja, cultivando um verdadeiro e salutar ecumenismo evangélico. Certamente me ajudou a fixar na mente e no coração, que o Reino de Deus não é só a igreja local, nem exclusivamente a nossa denominação. Foi excelente!

IV. NO SEMINÁRIO DE CAMPINAS

Não fui mau aluno; levei muito a sério o estudo. Durante 4 anos, meu trabalho no Seminário (todos os alunos realizavam algum trabalho no Seminário) foi o de auxiliar do Rev. Júlio Andrade Ferreira, o Historiador da Igreja. Durante os estudos continuei trabalhando no Centro de Saúde, como trabalhara em Santos, pois já era noivo e pretendia casar-me antes de terminar o Curso.
Casamo-nos dia 16/12/50, na metade do Curso Teológico. Em Campinas Maria Aparecida estudou Biblioteconomia e trabalhou alguns meses na Biblioteca do Seminário. Depois exerceu a profissão por mais de 40 anos, inclusive 6 anos como bibliotecária-chefe do Instituto Mackenzie, com 9 Bibliotecas.
Terminado o Curso Teológico estaria eu realmente preparado para o ministério? Como seminarista pouco trabalho tive com Igrejas, devido ao meu emprego, que me prendia em Campinas nos períodos de férias do Seminário. Mas Deus me preparou, não só com o Curso Teológico, mas com o exemplo edificante dos professores que estavam cônscios de que sua tarefa era muito mais do que dar um curso acadêmico; era “formar pastores”. Isto fizeram pela seriedade, pela espiritualidade, pela modéstia e pelo exemplo pessoal de vida cristã; todos eles se dedicavam integralmente ao magistério teológico, inclusive em regime de tempo integral: Felipe Landes, Guilherme C. Kerr, Herculano Gouvêa Jr., Jorge Goulart, Júlio Andrade Ferreira e Waldyr Carvalho Luz. Só Júlio Ferreira dava aulas em escola estadual, para garantir, com mais alguns anos, uma aposentadoria. Mas todos, sem exceção, trabalhavam eficientemente na preparação de pastores e não simplesmente de bacharéis em Teologia. Não reduziam o Seminário a uma mera Faculdade de Teologia; tementes a Deus, encaravam o Seminário como uma verdadeira Escola de Profetas. Eram homens cultos, estudiosos, que só ambicionavam servir bem o Reino de Deus. Não eram teólogos diletantes; eram antes de tudo, pastores nos moldes bíblicos. No campo da Música, Carlos Cristóvão Zink era um ótimo exemplo.
Não me foi fácil trabalhar 4 a 5 horas diariamente, das 16 ou 17 horas até as 21 no Centro de Saúde. Ali, em determinados dias de pouco serviço, sem nenhum problema de consciência ou administrativo, podia dedicar algumas horas ao estudo. Jantava no Seminário entre 21.30 e 22.00 h, estudava até as 23, dormia até as 5 h e me levantava para estudar até às 7. As aulas eram quase todos os dias das 8 às 12 e das 13 às 15 horas. Um convívio alegre e muito agradável com os colegas e os professores – deixou saudades.

V. INÍCIO DO MINISTÉRIO

Terminado o Curso, todo o tempo disponível foi gasto no preparo ou retoque da Tese, da Exegese e do Sermão de prova. A Exegese sobre 2 Tm 3.14-17; a Tese sobre o mesmo assunto: Inspiração das Escrituras, e o sermão de prova sobre At 20.24, a Excelência do Ministério.
A reunião do Presbitério de São Paulo foi, como em vários anos seguidos, realizada em Ubatuba, no templo da Igreja local. A hospedagem na pensão de uma família da Igreja, uma semana inteira. Aprendemos muito durante toda a reunião. Desde o respeito e obediência à Constituição da Igreja, ao Regimento Interno, seriedade em todas as discussões e postura irrepreensível dos oradores presbíteros e pastores.
Ruben Alberto de Souza e Ari Barbosa Martins foram examinados para fins de ordenação, e eu para licenciatura.
Qual seria meu primeiro campo de trabalho? Prevenira-me o Rev. Sebastião Silva Machado: o campo seria uma das 2 igrejas do Presbitério que não estavam crescendo – Bela Vista ou Canindé. Fui para a segunda.
A cerimônia de Licenciatura se deu em um culto, domingo de manhã, no templo da I. P. Unida de São Paulo, da qual eu fora membro de 1937 a 1945. Meu tutor eclesiástico foi o Rev. Wilson Nóbrega Lício, pastor da I. P. do Canindé.
Nessa Igreja, que eu ainda não conhecia, encontrei dois irmãos conhecidos há vários anos: Orlando Dinelli, que conhecera na infância em S. Carlos, e Armando Varella; nosso conhecimento anterior nos fez amigos e bons colaboradores.

V. O PRIMEIRO PASTORADO

Em janeiro de 1953 fui licenciado e trabalhei como tal na I. P. do Canindé. Na realidade localizava-se no bairro do Pari, à R. Afonso Arinos. Ano cheio de bênçãos! A Igreja tinha cinco anos como igreja organizada; fora organizada com 95 membros, mas agora tinha apenas 90 no rol.
Sem experiência de trabalho em Igreja como seminarista, imagino quão imperfeito foi o meu trabalho. Mas Deus é o poderoso Senhor que faz grandes coisas por nós. Amei aqueles irmãos, que me amaram também. Fui fiel no ensino e na pregação; visitei, identifiquei-me com eles. Deus abençoou o trabalho de toda a Igreja, que nesse ano cresceu; se não me falha a memória, foram 12 novos membros recebidos nesse ano. Promovemos 3 séries de conferências e preciosos frutos foram colhidos.
Ao mesmo tempo que iniciava eu o trabalho de licenciado, um crente novo, evangelizado pelo presbítero Marcos Ferraz de Almeida, começou a freqüentar a Igreja – Luis Pierre. Seis meses depois era batizado; passados mais 6 meses, era nomeado Superintendente da Escola Dominical. Nesse período já conseguira levar para a Igreja sua esposa Ana, sua filhinha Verena, seus pais Ângelo e D. Felícia, e suas cunhadas Rosa e Lúcia com as filhas Nanci e Nadir, a sogra D. Angelina e sua irmã Madalena com o filho Fábio e Mariângela mais tarde. Dentro de um ano todos os adultos professaram a Fé. A Igreja possuía um pequeno Ponto de Pregação no bairro de Santana.
Durante o ano a Igreja trabalhou e progrediu; semeou e Deus deu o crescimento e nova vida à Igreja. Quando terminou o ano, fui ordenado ao ministério e permaneci na Igreja como pastor. Era o ano de 1954. Durante esse ano pastoreei também a I. P. de Vila Maria – onde Deus também promoveu progresso e fortalecimento.
Em 1954, um dia eu visitava o irmão Francisco Lutti em seu apartamento na Rua Leite de Morais, em Santana.
Falei-lhe sobre a idéia do Rev. Wilson: a Igreja deveria um dia mudar-se para o bairro de Santana; precisávamos comprar ali uma propriedade. Então o irmão Lutti diz: “Reverendo, nesta rua há uma casa à venda, há um ano. Quem sabe se a Igreja pode comprá-la?” Fomos imediatamente ver a casa, no número 107 da rua. O dono da casa, Arcângelo Cirilo, idoso, na realidade um dos donos, pois a casa estava em inventário. “Qual o preço?” –“Cr$ 800.000,00, mas se é para Igreja, eu deixo por Cr$ 750.000,00. Vocês dão Cr$ 80.000,00 de entrada e o restante em 90 dias”.
No mesmo dia reuni o Conselho da Igreja, este convocou a Assembléia. Na Assembléia a idéia parecia um absurdo: “onde conseguir esse dinheiro? Só temos o dinheiro para a entrada!” “Para conseguir o restante, faremos uma Campanha, contando com amigos e irmãos de outras igrejas”. A irmã que mais argumentou contra a compra, de repente se levantou e propôs que a Igreja comprasse a casa. E a proposta foi aprovada. Feito o pagamento de Cr$ 80.000,00, a Igreja entrou na posse do imóvel.
Procuramos amigos da Igreja Unida: Lysias de Oliveira, Benedito Escobar Bonilha e outros; montamos uma Campanha Financeira no sistema que a ACM e também a Igreja Unida costumavam usar. Aqueles irmãos conheciam bem o sistema. O presbítero Bonilha foi o Presidente da Campanha, o deputado Camilo Ashcar foi o Presidente de Honra. Mãos à obra! Em 3 meses conseguimos 1/3 do necessário, mas o advogado dos vendedores nos avisou que teríamos mais tempo, porque ele não conseguira, ainda, todos os documentos necessários para passar a Escritura; eram 23 herdeiros da propriedade, e ainda havia um inventário a ser encerrado. A Igreja já possuía o terreno de 636 m2 com uma casa de 4 ou 5 cômodos.
Um dos novos membros da Igreja, Luis Pierre, era construtor, outro era marceneiro: João Conceição Sales. Com os dois à frente lançamo-nos à construção de um salão de cultos no fundo do terreno, construímos um galpão para o trabalho com as crianças. A Igreja se mudou para a Rua Leite de Morais, e pusemos à venda a propriedade antiga. Passaram-se nove meses, a Igreja continuava a Campanha; por último vendemos a propriedade da R. Afonso Arinos, por Cr$ 300.000,00, com o que completávamos o dinheiro para o pagamento final. Exatamente na mesma ocasião o advogado dos vendedores nos chamou para pagarmos o restante; o dinheiro estava completo! Só a bondade e a providência de Deus explica tudo o que foi feito e conseguido: uma nova propriedade cinco vezes maior que a anterior, instalações melhores, num bairro populoso, residencial e o principal da zona norte da cidade!
Uma nova fase da vida da Igreja se iniciava auspiciosamente.

VI. COMO CRESCEU A IGREJA

O primeiro Conselho da Igreja em Santana constava dos presbítero Armando Varella, pequeno industrial, dedicado e tesoureiro da Igreja, Marcos Ferraz de Almeida, Pedro Reche Martinez, Primo Viviani, José Neves e Luis Pierre. Mais tarde outros entraram: João Montessanto, Benedito Souto e Isaias Nobre. Muitos outros irmãos se agregaram: as famílias Corbo, Bravo, Bull, os Dourado e outros. Quando chegaram e foram recebidas as famílias Bravo e Marins, o rol da Igreja completou 150 membros!
Em 1954 eu dividia o tempo e o trabalho com as Igrejas Ebenezer e Vila Maria; aos domingos de manhã em uma delas, à noite na outra, nos cultos de meio de semana, tanto em uma como na outra. Ambas cresceram, pela graça de Deus. O movimento financeiro de Vila Maria triplicou, o que levou o Conselho a elaborar novo Orçamento para o ano.
Na Igreja Ebenezer, especialmente, colaboraram a meu convite pregadores leigos de uma equipe da Igreja Unida, coordenada pelo presbítero Honório Cúndari, entre eles Ernesto Verlangieri, Rui Batista de Carvalho e outros.
No ano de 1955 continuei na I. P. Ebenezer e pastoreei também a igreja da Casa Verde; para a I. P. Vila Maria voltou o Rev. Samuel Martins Barbosa.
Formado pelo Seminário do Sul (Campinas), com os professores já mencionados, sob a influência benéfica de meus ex-pastores - Miguel Rizzo Jr., Boanerges Ribeiro, Mário de Cerqueira Leite Jr. e outros, minha formação era conservadora, de um conservadorismo vivo, nada retrógrado, com olhos voltados para o alto e para frente. O resultado foi para mim surpreendente: em 8 anos a Igreja Ebenezer passara a ter um patrimônio 5 vezes maior do que o de início; um projeto de Dr. Jurandir Cunha, de um novo templo com o total de 1.800 m2 de construção, foi aprovado pelo Conselho e pela Assembléia da Igreja. Se não me engano, em 1960 a Igreja iniciou a construção; foi feita a fundação e erguido parte do salão social, com mais de 200 m2, foi feita a laje de cobertura e, feita a instalação elétrica provisória, o salão foi usado nos trabalhos do fim do ano.
A Igreja iniciara uma Congregação em Vila Gustavo, onde comprou uma casa; assumira a Congregação do bairro de Tremembé que pertencia à I.P. Unida, e iniciou outra Congregação no bairro de Tucuruvi; logo eram 3 novas igrejas.
Ao fim de 8 anos a Igreja tinha real possibilidade de continuar crescendo, com pastor efetivo. Deus fizera “grandes coisas”, realmente.

VII. UM BATISMO NA CASA DE DETENÇÃO

A Antiga Casa de Detenção – uma extensão da Penitenciária do Caradirú – estava a menos de 1.000 metros da Igreja Ebenezer.
Ali o irmão Joel Ribeiro, metodista, pai do pastor presbiteriano Rubens Ribeiro, realizava um trabalho de evangelização. Um dia nos procurou na Igreja Ebenezer e relatou que lá havia um homem idoso, de 74 anos, que se convertera e queria ser batizado.
Fui com ele conhecer o novo irmão e fiquei encantado com o seu testemunho: era um homem modesto, aposentado, tinha sua casa própria, saúde - nada lhe faltava, não sentia necessidade de Deus, dizia ele. Morava com uma filha e o genro, com o qual se dava bem. Mas um dia discutiu com o genro, pegou uma arma e atirou no genro, matando-o. Agora já fazia 2 anos que estava preso. Ali na cadeia ouviu a pregação do Evangelho, converteu-se e agora dizia: precisou ir parar nesse lugar para ouvir o Evangelho, sentir necessidade de Deus e converter-se.
Sobre o seu pedido para ser batizado, conversei com o Rev. Avelino Boamorte, há anos Capelão da Penitenciária. Ouviu a história e disse: “Normalmente não batizo alguém enquanto está na prisão, mas neste caso eu batizaria”. Conseguimos com a Direção da Casa de Detenção marcar um culto especial num dos pátios, com a presença de muitos dos presos, do Rev. Avelino e o evangelista Joel Ribeiro. Guardo uma fotografia da cena do batismo. A última vez que visitei esse irmão foi no presídio de Franco da Rocha, no Manicômio Judiciário, porque o advogado dele conseguiu a sua remoção, por julgar que ele ali estaria em um lugar melhor do que a Casa de Detenção. Esse irmão tinha o corpo na prisão, mas sua alma estava livre do pecado e da condenação. Ele mesmo me dissera: “minha filha (a viúva) ainda não me perdoou, mas Deus já me perdoou”.

VIII. A CONSTRUÇÃO DO NOVO TEMPLO

O engenheiro e arquiteto Dr. Jurandir Cunha, construtor do templo da Igreja Batista de Vila Mariana, era genro de uma senhora da Igreja. Consultamo-lo e, por decisão do Conselho da Igreja, ele elaborou uma planta para uma construção de 1.800 m2: templo e prédio de Educação Religiosa, com 4 andares. A Assembléia da Igreja, convocada pelo Conselho, aprovou a planta e a execução da obra. A Igreja passou o ano de 1959 juntando dinheiro para iniciar a construção; durante o ano de 1960, com l pedreiro e l ajudante, construiu-se parte do templo, sem demolir a casa,que era necessária para o trabalho da Igreja.
No fim do ano de 1960, na construção inacabada, mas em condições de uso, foi realizada a Festa do Natal e realizado o Culto de Vigília no salão de 218 m2 construídos. Foi mais uma grande vitória .
No mês seguinte reuniu-se o Presbitério de São Paulo e me ofereci para ser o 1o missionário da Junta Missionária do Presbitério, abrindo dessa forma um campo para o colega Ruben Alberto de Souza, que voltava do Chile, após 2 ou 3 anos de trabalho naquele país.

IX. MISSIONÁRIO EM SÃO PAULO

O Presbitério havia criado uma Junta Missionária mas ainda não a havia estruturado e posto em ação.
O retorno de Ruben Alberto de Souza, do Chile, onde estivera 2 ou 3 aos, seria a oportunidade para a Junta iniciar seu trabalho, com Ruben Alberto como seu 1o. missionário. Porém Ruben Alberto afirmava não poder ficar nesse trabalho dependendo de receber seu salário da Tesouraria do Presbitério; precisaria pastorear uma Igreja. Sendo seu amigo, considerando estar já há oito anos na Igreja Ebenezer, julguei que seria uma boa hora para dedicar-me a um trabalho diferente, e ao mesmo tempo abrir uma oportunidade para o colega. Ofereci-me para ser o 1o missionário da J.M. Aos olhos humanos, um erro; mas na realidade Deus estava realizando o Seu plano. Era o ano de 1961. O Presbitério aceitou meu oferecimento, reservando metade de meu tempo para a Junta Missionária, e metade para pastorear a nova e pequena Igreja de Vila Carolina.
A inesperada despedida da amada Igreja Ebenezer foi muito emocionante, com muito choro. Havíamos trabalhado e lutado juntos durante 8 abençoados anos!
Em Vila Carolina foram dois anos de agradável convívio. Em 1955, como pastor da Igreja de Casa Verde, eu já pastoreara a pequena Congregação de Vila Carolina. Na ocasião solicitara ao presbítero Pérsio Menezes, da I. P. de Santos, meu amigo, um empréstimo à Igreja de Cr$ 50.000,00 para construir um salão de cultos. O empréstimo foi feito, o salão foi construído com pequenas salas anexas – a base para o futuro templo, no nível da rua, como foi feito mais tarde. Não fiquei sabendo se o empréstimo foi transformado em doação.
A I. P. de Vila Carolina progrediu e é também uma fonte de boas recordações. Foi durante esses dois anos que se iniciou o Ponto de Pregação na Vila Dionísia, que é hoje outra Igreja.
No Trabalho da Junta, durante alguns meses percorri os bairros das zonas Oeste e Nordeste, e o Vale do Paraíba.para escolher os locais e planejar a criação de novas congregações e futuras igrejas.
Em conjunto com a Diretoria da J.M. elaboramos uma lista de bairros de São Paulo e cidades dos arredores, onde a Igreja Presbiteriana devia estabelecer igrejas. A própria J.M. iniciaria trabalhos e as igrejas do Presbitério criariam outras congregações nos pontos apontados no plano.
Em 1961 iniciei em Guarulhos a 1a Congregação da J.M.. Foi no bairro de Vila Progresso, onde existiam duas famílias mineiras, aparentadas: a família Chaves e a família Lisardo, mais a família de Osvaldo Gomes, a de João Rosalino Ferreira e outras.
Uma visita, e imediatamente se iniciou o trabalho da nova Congregação, com Escola Dominical e culto, em casa de Nival Lisardo.
Logo a Congregação ganhou o terreno onde veio a construir seu templo inicial. Eu fazia muitas visitas a irmãos para solicitar ofertas para que a J.M. comprasse terrenos para as futuras congregações. Com esse propósito visitei o irmão Dr. Erasmo Schutzer. Falei da Congregação de Guarulhos; Erasmo, movido por Deus, me surpreendeu: “Eu dou o terreno para a Congregação de Guarulhos, em memória de meu irmão Walter. Façam a compra do terreno e eu pagarei as prestações”.
No mesmo ano fui a Carapicuíba com o Rev. Miguel Orlando de Freitas para estudar a possibilidade de iniciar ali a 2a Congregação da Junta. Mais uma vez a providência de Deus ficou bem evidente. Estando na Rua Duque de Caxias, hoje Av. Mal. Teixeira Lott, no carro guiado pelo Rev. Miguel Orlando, fomos alcançados por um adolescente que viu o carro passar; então o jovem Daniel perguntou: “O senhor é o Rev. Miguel Orlando? Meu pai quer falar com o senhor”. O Rev. Miguel fora reconhecido pelo sr. Job de Oliveira, que fora sua ovelha no campo de Iguape, litoral sul de São Paulo.
Foi um dos encontros promovidos por Deus. O sr. Job e D. Isolina (esposa) e família, presbiterianos, moravam a 100 metros do local do encontro. Resultado imediato: sem demora iniciamos o trabalho presbiteriano na casa do casal Job e Isolina. O Ponto de Pregação cresceu rapidamente com a adesão de outros presbiterianos e presbiterianos independentes moradores da região. Logo a J.M. adquiriu um terreno ali perto, e mais tarde uma casa de D. Maria Catur, para onde a Congregação se mudou, onde a Igreja cresceu e construiu o seu templo.
No ano de 1962, também com a ajuda do Rev. Miguel Orlando iniciei a Congregação de Vila Pompéia. Sabendo que naquele bairro havia várias famílias membros da Igreja Unida, procurei o Rev. Miguel Orlando e solicitei que me desse endereços de membros da Igreja Unida ali residentes. Atendido, visitei todos, e a maioria decidiu compor a nascente Congregação. Hans Klepetar, Ettore Figaro e as respectivas famílias, D. Dirce Magalhães entre outros, como D. Isolina Costa Hochfeld, o presbítero Orides Ferreira da Graça, da I. P. da Lapa, e muitos outros se uniram em torno do ideal de formar a I. P.de Vila Pompéia – Laércio Nogueira, D. Filomena, os dois filhos e as duas filhas, as irmãs Delbuque, Pascoal D’Amore, mais tarde também o filho Armando, com a esposa D. Alba e os dois filhos, Osvaldo Simonetti e esposa, D. Celina Apolinário, Hélio Pinto e muitos outros.
De imediato resolveram criar uma tesouraria e contribuir financeiramente; alugamos uma casa na Rua Barão do Bananal, 412 e ali se instalou a Congregação. Os móveis necessários foram comprados, tudo com os dízimos e ofertas dos irmãos. D. Celina foi a tesoureira por sete anos, e Osvaldo Simonetti foi o 1o Superintendente da Escola Dominical. Um ano e meio depois organizou-se a I. P. de Vila Pompéia, que cresceu sem parar. Desde o início criou-se um “Fundo para compra de uma propriedade”. Era o ano de 1962. Em 1969 foi comprada uma casa na Rua Raul Pompéia, onde até hoje está a Igreja, no templo recentemente construído.
Ali estive até 1970. Nesses sete anos e meio, pastoreei também as Congregações de Guarulhos e Carapicuíba, a I. P. de Jambeiro (um ano), a I. P. de Vila Brasilândia por quatro anos. O saudoso Rev. Avelino Boamorte colaborou conosco em Guarulhos, Carapicuíba e Vila Pompéia durante quase dez anos.

X. A JUNTA MISSIONÁRIA, um capítulo à parte

Em 1961 a Junta Missionária do Presbitério iniciou seu trabalho. Uma Diretoria formada por pessoas interessadas no trabalho - Revs. Avelino Boamorte, José Borges dos Santos Jr., Wilson Nóbrega Lício, presbítero Heitor Gouvêa, eu; mais tarde também Lysias de Oliveira e Clovis Franco, presbíteros da I. P. Unida - também compuseram a Junta.
A Junta decidiu escolher os bairros de São Paulo e municípios dentro de seus limites, ou até onde pudesse, fora de limites de outros presbitérios, para neles abrir Congregações, ou pedir a Igrejas mais próximas para fazê-lo. Feito o plano, reuniu-se o Presbitério para conhecê-lo e aprová-lo. Isto feito, mãos à obra! Logo se iniciou o trabalho em Guarulhos e Carapicuíba, resolveu-se solicitar ofertas para comprar terrenos ou casas para as futuras congregações. Foram muitas as ofertas de todos os tamanhos, atingindo cerca de Cr$ 8.000.000,00. Um irmão deu Cr$ 200.000,00. outros contribuíam mensalmente, até com Cr$ 2,00; havia interesse e alegria com o propósito de fazer a Igreja se expandir, como realmente aconteceu .
O 1o terreno comprado foi o de Guarulhos, o 2o o de Carapicuíba e outros se seguiram: Jacareí, Caçapava, São Sebastião, Caraguatatuba, Cachoeira Paulista, e mais um imóvel (casa) em Carapicuiba. Hoje em cada um desses lugares há uma Igreja presbiteriana. Nada se perdeu dos recursos arrecadados.
Mas não foi apenas comprar terrenos.
Com outras ofertas para esse fim conseguidas, a J.M. contratou obreiros: Rev. Hamilton Michalski, Rev. Misachi Rodrigues, Rev. Natanael Emerich. Hamilton trabalhou afincadamente no litoral norte do Estado, residindo em Ubatuba, onde pastoreava a Igreja; Misachi pastoreou a Igreja de Taubaté, Nathanael, a Congregação de Cachoeira Paulista. A I. P. de São José dos Campos cuidou de suas congregações de Jacareí e Caçapava.
Estimuladas pela disposição do Presbitério e da Junta Missionária, a I. P. de Pinheiros iniciou o trabalho em Embu (bairro de Invernada), Granja Viana e Cotia; a I. P. da Lapa iniciou o trabalho em Pirituba.
Foram apenas seis anos de trabalho da Junta Missionária.
Resultados práticos do trabalho: cinco Congregações iniciadas e bem desenvolvidas em Guarulhos, Carapicuíba, Vila Pompéia, S. Sebastião e Cachoeira Paulista; oito terrenos comprados (sendo um com casa) nesses locais (menos Vila Pompéia) e ainda em Caçapava, Jacareí e Caraguatatuba. Por algum tempo, talvez um ano, a Congregação da Freguesia do Ó, da Igreja Unida, foi confiada à J.M., ocasião em que saiu da casa do presbítero Manoel para uma casa alugada na Rua Chico de Paula.
Hoje em todos esses lugares há igrejas presbiterianas, nove ao todo.
O “Fundo para Investimento e Empréstimos” criado e formado pela J.M. atingiu, se não me falha a memória, a importância de Cr$ 8.000.000,00, do qual se beneficiou, inclusive, a I. P. de Osasco com um empréstimo de Cr$ 200.000,00, por ocasião da construção de seu templo, no pastorado do Rev. Renato Fiúza Teles. O restante foi gasto na aquisição das oito propriedades. Essas propriedades e as igrejas instaladas lá estão como um marco do trabalho realizado sob a direção de Deus.
Muito mais teria feito a J.M. se o Presbitério de São Paulo não se tivesse desviado da rota doutrinária e do sistema presbiteriano.
Pois em 1966 o Rev. José Borges dos Santos Jr. perdeu a reeleição para a Presidência do Supremo Concílio. Já havia na Igreja Presbiteriana do Brasil, em São Paulo, duas facções opostas. O Rev. Borges, depois de uma vida inteira de firmeza doutrinária, professor de Teologia no Seminário de Campinas, pastor bem sucedido na I. P. de Campinas e na I. P. Unida de S.Paulo, encantava-se com o Ecumenismo da Igreja Romana. No Presbitério de São Paulo, os membros da Junta Missionária não seguiam as idéias do grupo dominante. No mesmo ano de 1966 percebemos que havia a intenção de extinguir-se a J.M, mas o Relatório da J.M., mostrando todo o trabalho realizado e os excelentes resultados, desarmou os adversários; porém no ano seguinte, após a reunião do Supremo Concílio, o Presbitério consumou o desatino de extinguir a Junta Missionária; um dos poucos argumentos usados, até ridículo, era de que a J.M. parecia um Presbitério dentro do Presbítero de S. Paulo, com sua própria Diretoria, um Secretário Executivo e um Tesoureiro. O plano de abertura de outras Congregações, o “Fundo para Investimento e Empréstimos”, foram definitivamente deixados de lado.
Que fazer? Tivemos que conformar-nos e confortar-nos com os fatos auspiciosos: aí estão até hoje as igrejas criadas naqueles seis anos de trabalho intenso; as propriedades adquiridas são dessas igrejas; as portas do inferno não prevaleceram! Dois anos mais tarde o próprio Presbitério de São Paulo foi processado e dissolvido por causa de seus desvios e desatinos.

XI. NOVOS CAMPOS, NOVAS EXPERIÊNCIAS

Em 1.962 eu pastoreava as Congregações de Guarulhos, Carapicuíba e Vila Pompéia. Em 1.967 meu campo de trabalho foi Vila Pompéia e Vila Brasilândia. Nesse campo estive até 1.970. Nesse último ano a I. P. de Vila Pompéia realizou seu sonho de comprar uma propriedade – foi na Rua Raul Pompéia, onde se instalou imediatamente, e onde construiu recentemente seu templo.
Desde 1.968 esse campo já era do Presbitério Bandeirantes, criado com o desdobramento do Presbitério de São Paulo, que logo depois foi dissolvido.
Aqui temos de fazer um parêntesis na História para registrar que o Presbitério de São Paulo, já dissolvido, mas existindo ainda como pessoa jurídica, se insurgiu contra a decisão histórica do Sínodo de S. Paulo, e criou uma cisão em São Paulo. Reuniram-se nada menos do que 23 dos 26 pastores do dissolvido presbitério, com representantes de 22 de suas 26 igrejas, e fundaram uma “Federação de Igrejas Presbiterianas e Reformadas”. Mais tarde essa Federação veio a chamar-se FENIP – Federação Nacional de Igrejas Presbiterianas, e atualmente se denomina Igreja Presbiteriana Unida do Brasil – IPUB. Só não deixaram a Igreja Presbiteriana do Brasil, as Igrejas: Betânia (só a parte que ficou fiel à I.P.B.), Vila Pompéia, Pirituba e Brasilândia, e dos 26 pastores, só Avelino, Wilson e eu.
Logo as Igrejas e os pastores foram se convencendo de que haviam cometido um erro lamentável, e começaram a retornar para a Igreja Presbiteriana do Brasil. Uma das primeiras foi a de Osasco, em 1.971, quando era pastoreada pelo pastor recém-formado Edval Queiroz Matos. Hoje, em 2.006, apenas a Igreja Presbiteriana do Jardim das Oliveiras permanece na IPUB. A antiga Igreja Presbiteriana de Jandira simplesmente desapareceu; 20 das 22 igrejas que acompanharam Borges, na cisão, retornaram posteriormente para a Igreja Presbiteriana do Brasil. Em 1971, com o retorno da I. P. de Osasco, o Presbitério Bandeirantes decidiu colocar-me no pastorado dela, e da I. P. de Carapicuíba e ainda durante quase um ano pastoreei também a Igreja Unida, que também havia retornado para a Igreja Presbiteriana do Brasil.
A cisão causou alguns problemas, sem dúvida. O Presbitério Bandeirantes, que deveria ter 11 igrejas em seu rol, só contou realmente com 4 (quatro): Betânia, Pirituba, Vila Pompéia e Brasilândia.
Evidentemente, era um Presbitério frágil, de poucos recursos materiais: não tinha condições de manter seus pastores; por isso deu liberdade aos seus três pastores em atividade, para trabalharem em trabalho secular. Nós três nos tornamos professores: Wilson, Saldiba e eu.
Permaneci na Igreja de Osasco por 14 anos, até janeiro de 1985. Nesses 14 anos – mas não em todo o tempo - pastoreei também Carapicuíba, Unida, Betânia (a parte que permaneceu fiel à Igreja Presbiteriana do Brasil), Bom Pastor e Congregação da Cohab de Carapicuíba. De 1.971 a 1.981 dividi o tempo com o magistério, no “Instituto de Educação Virgília Rodrigues Alves de Carvalho Pinto”. Foram 11 anos de trabalho secular junto com o ministério, porque as igrejas não tinham condições de manter os pastores. Esforçamo-nos, todos os pastores do então Presbitério Bandeirantes, para que as Igrejas pudessem ter assistência pastoral. Valeu a pena! Assim que o Presbitério passou a ter condições, deixamos o magistério para sermos apenas pastores.
Em 1.985 deixei a Igreja de Osasco e permaneci na Congregação da Cohab, com a I. P. Bom Pastor. De 1.992 a 1.996 pastoreei a Igreja Ebenezer (Osasco) e a Congregação da Cohab. Em 1.997, devendo ser jubilado, deixei a I. P. Ebenezer e dei assistência pastoral à 2a. I. P. de Carapicuíba durante três anos. Depois fiz o mesmo na Igreja Bom Pastor, na Congregação e depois I. P. de Vila Baronesa.
Cada Igreja com suas características, pontos fortes, e pontos fracos, necessidades, lutas e vitórias; cada Igreja foi uma fonte de alegrias e uma oportunidade de servir.

XII. CURSO INTENSIVO DE TEOLOGIA

Várias vezes fui surpreendido com nomeações ou eleições. Uma delas, quando fui eleito Presidente do Sínodo de São Paulo, em 1.979; em 1.981 foi eleito outro irmão e fiquei na vice-presidência; alguns meses mais tarde, porém, esse irmão renunciou ao mandato e por isso voltei à Presidência do concílio até julho de 1.983. Nessas condições fui a quatro reuniões da Comissão Executiva da Igreja Presbiteriana do Brasil realizadas em Brasília.
Mais do que um honroso privilégio, é uma responsabilidade grande, que tem que ser olhada com muita seriedade e humildade. É fácil, nessas condições, alguém cair na tentação de fazer ou participar de alguma má política personalista ou de interesses pessoais. Somente com a decisão firme de não participar de semelhantes situações é que podemos servir bem a Igreja. Isso exige fidelidade ao Senhor da Igreja, à própria Igreja e coragem para desagradar amigos e interesses estranhos à Igreja. Um fato dessa natureza foi a indicação que fiz do irmão Antonio Ribeiro Soares para a Superintendência da Casa Editora Presbiteriana, contra a vontade de outros irmãos que tinham outra indicação. Foi um decisão acertada; os frutos de seu trabalho na Casa Editora comprovam.
Porém, outra surpresa que tive foi a de ser nomeado membro da Comissão Especial de Seminários. Como tal participei de algumas de suas reuniões e do exame de pastores vindos de outras denominações que queriam ser arrolados na I.P.B. Surpreendeu-me, também, a mesma Comissão, ao me convidar para ser um dos professores do Curso Intensivo de Teologia. Aceitei o convite, pois teria um ano para preparar-me para as aulas de Exegese do Novo e do Velho Testamentos.
Como foi agradável e gratificante ensinar homens maduros a estudar a fundo as Escrituras! Seguir as pegadas de Guilherme Kerr e Herculano Gouvêa Filho não foi tão difícil quanto trabalhoso. Durante anos passava todo o mês de janeiro no prédio do Seminário de Campinas ministrando as aulas e durante o ano examinava os trabalhos que os alunos tinham que realizar e encaminhar-me pelo Correio. Ministrei também Educação Religiosa e Homilética.
Os alunos em geral já eram obreiros em atividade ou queriam, em sua maturidade, ser pastores, alguns já aposentados ou prestes a se aposentarem em suas profissões, ou pelo menos servir melhor a Igreja. Diversos médicos, advogados, professores e profissionais de outras áreas fizeram o Curso.
Imensa e gloriosa tarefa de participar do preparo desses homens que anualmente, durante três anos, sacrificavam suas férias para estudar no C.I.T. Era Curso intensivo mesmo, com oito a 10 aulas diárias e trabalhos para realizarem durante esse mês e durante o ano realizarem leituras determinadas pelos professores e escreverem seus trabalhos.
Alunos e professores levavam a sério o Curso. Os resultados foram excelentes. Pastores que escolheram o ministério pela convicção do chamamento divino. Não eram pessoas inexperientes à procura de uma fonte de renda, emprego, mas em busca de um ministério, serviço dado por Deus.
O Coordenador e professor do Curso, era o Rev. Oadi Salum experimentado professor do Seminário de Campinas. Outros professores foram: Revs. Raymundo Loria, Adão Vieira, Hélio Vieira, Ludgero Bonilha de Morais, Osvaldo Henrique Hack e Hermstein Maia. Como o Rev. Oadi começou a fazer um Curso de Pós Graduação também em janeiro, precisou deixar o C.I.T. e eu fiquei em seu lugar como Coordenador. De segunda a sábado, durante o mês de janeiro, ali estava num trabalho intenso e gratificante. Todo sábado voltava para o trabalho da Igreja em Osasco.
Outra grande experiência que Deus me proporcionou foi no Movimento do Escotismo. Fica para o próximo capítulo.

XIII. PASTOR-ESCOTEIRO

No mesmo ano de 1.961, quando deixei a I. P. Ebenezer de S. Paulo e iniciei o trabalho na Junta Missionária, fui indicado pelo Rev. José Borges dos Santos Jr. para ser o Capelão Evangélico da União dos Escoteiros do Brasil (U.E.B.) - Região de São Paulo.
Simpatizante do Movimento Escoteiro, aceitei o convite e fui nomeado pela U.E.B., mas percebi que precisava conhecer “por dentro” o Escotismo. Fui, então, fazer um “Curso Preliminar da Insígnia de Madeira” destinado a preparar chefes escoteiros. Comprei o uniforme e parti para o Curso dado em um Acampamento de três dias. Foram meus colegas de Curso os irmãos William Anderson e Benjamin Harris Hunnicutt Jr. Ali fiz a minha Promessa: “Prometo por minha honra cumprir meus deveres para com Deus e a minha Pátria, obedecer a Lei do Escoteiro e fazer todos os dias uma boa ação”. Tinha eu, então, 34 anos de idade, e oito anos de ministério.
Benjamin Hunicutt Jr., engenheiro, presbiteriano e membro da I. P. Jardim das Oliveiras, foi meu companheiro na Patrulha Corvo. Em sua Igreja havia o Grupo de Escoteiros Umuarama. Após o Curso fui convidado para ser “Chefe de Grupo” do G. E. Umuarama. Chefe de Grupo é quem preside o Conselho de Chefes de um Grupo: o dos lobinhos, o dos escoteiros, o dos escoteiros-seniores e dos pioneiros, se houver. Aceitei o convite, mas passados alguns anos precisei substituir na “tropa” o chefe Cascavel (apelido de Luis Carlos Gabriel no escotismo).
E então, todos os sábados, das 15 às 17 horas, reunião da Tropa de Escoteiros e da Alcatéia de Lobinhos; sempre que possível, um acampamento e participação em eventos do Escotismo, como Acampamentos Demonstrativos (para divulgação do Movimento), Acampamentos Regionais ou Internacionais (para o fim de confraternização). Participei de tudo. As mais notáveis realizações foram: um acampamento de oito dias em Umuarama (Campos do Jordão), uma excursão ao Pico Pedra do Sino em Teresópolis (2.400 metros de altitude), e o Jamboree Internacional do Rio de Janeiro, em 1.965.
Por esse tempo, como Capelão da Região de São Paulo, participei dos Cursos de Chefes, dirigindo os cultos evangélicos. Fui também, por alguns anos, da Comissão Executiva da Região de São Paulo, como 2o. tesoureiro da Região. O Presidente da Diretoria anterior fora nosso irmão Dr. Alceu Maynard.
Enfim, participei do G. E. Umuarama cerca de sete anos. Ainda estava nesse Grupo quando na I. P. Vila Pompéia resolveu-se criar o Grupo Escoteiro Camaiurá. Começamos, como devíamos, com a Alcatéia de Lobinhos; quando estes atingiram os 11 anos, organizamos a Tropa de Escoteiros; duas jovens passaram a chefiar os lobinhos. Assim foi até minha saída dessa Igreja para a I. P. de Osasco em 1971.
Talvez alguém pergunte: pastor de igrejas, iniciador de novas congregações, pode ainda ter tempo para chefiar escoteiros? Respondo: não só pode, mas se tiver disposição física e alma de pastor, a melhor maneira de pastorear esses jovens será como chefe de lobinhos e de escoteiros, junto com outros adultos, pois o método e a filosofia do Escotismo, as atividades e prática da Lei do Escoteiro – ao lado da Escola Dominical e os cultos da Igreja, são o melhor que podemos oferecer às crianças e jovens; pois o Escotismo é legitimamente evangélico e é realmente uma “escola de educação integral”. Proporciona eficientemente as atividades físicas, intelectuais, morais e espirituais necessárias ao jovem cristão, pois é também uma “Escola de Civismo”.
Quando em fins de 1970 precisei trabalhar fora da Igreja para prover o sustento da família – e isto durou 10 anos e meio – não pude mais separar um tempo para ser chefe de escoteiros; passei, porém, a organizar a U.P.A da igreja como uma tropa de escoteiros, e a Liga Juvenil como uma Alcatéia de Lobinhos. Com reuniões semanais, acampamentos e acantonamentos. Maravilhosa e gratificante experiência!
Aos sábados à tarde, das 15 às 17 estava eu na Congregação do Rio Pequeno dirigindo a reunião semanal da U.PA e aos domingos à tarde, no salão social da I. P. de Osasco, dirigia a reunião dos lobinhos. Em ambos os casos, com meninos e meninas juntos, inclusive nos acampamentos, sem nenhum problema. Nos acampamentos necessariamente teria de ir também um casal ou pelo menos uma senhora para cuidar das meninas, se necessário.
Foram dezenas de acampamentos realizados com os escoteiros e os jovens da U.P.A.. Com a de Osasco fizemos uma excursão à Pedra do Sino em Teresópolis (mais de 2.000 metros de altitude).
Estou certo de que o contato pessoal, identificando-me com eles – ao jogar bola, ao dormir em barracas como eles, sentar-me no chão, ensinando-os a cozinhar e comendo com eles a comida feita por eles, foi o melhor que eu poderia fazer pelo desenvolvimento de suas personalidades, e isso deu ótimos resultados.
Não perdi a esperança de ainda ver muitas igrejas presbiterianas adotando em seu trabalho o método do Escotismo. Isto é possível, inclusive porque a União dos Escoteiros do Brasil tem toda a literatura, cursos e vontade de ajudar na boa formação da juventude em geral. Será uma ótima aliada da Igreja.
Para isso é necessário que adultos – acima de 18 anos – se disponham; adultos que se sintam responsáveis pelos nossos jovens e se preocupem realmente com seu futuro e a boa formação de seu caráter, e resolvam arregaçar as mangas e fazer algo concreto, positivo, e muito agradável tanto para crianças como para jovens, e também para nós adultos que nos identificamos com eles. Não fique indiferente, nem lamente apenas a perdição em que está a maior parte de nossos jovens.

XIV. SERVIÇO SOCIAL

Foi ainda no 2o ano de meu ministério (1954) que tive a 1a oportunidade de participar do serviço social que compete também à Igreja. Foi quando presbiterianos da I. P. do Brás decidiram criar um asilo para idosos: o “Lar Presbiteriano Izidoro de Souza”. Fiz parte de sua Diretoria.
São dezenas de textos bíblicos em que Deus nos fala sobre o cuidado que precisamos dispensar ao órfão, à viúva, ao pobre. Citarei apenas um. Em Deuteronômio 15, Deus nos instrui sobre a responsabilidade social com referência ao pobre – especialmente do v. 7 ao v. 15. Este é o que Cristo cita em Mateus 26.11, Marcos 14.7 e João 12.8; mas a maioria fica só com o v. 11 de Deuteronômio 15 e o isolam do restante, interpretando-o, então, erradamente como se Cristo estivesse dizendo “é inútil cuidar do pobre, pois a pobreza sempre existirá”! É o contrário! As causas de pobreza são muitas – algumas involuntárias e outras de origem moral; e o texto de Deuteronômio 15 está dizendo que precisamos cuidar do pobre, sem dizer em que casos, isto é, cuidar dele sempre. O cristão não pode deixar de ser solidário com o próximo necessitado. O texto não fala de amparar só o israelita, mas também o estrangeiro, o gentio.
Impressiona-me o fato de que quando Cristo fala de seu retorno e do juízo final, dirá aos salvos que eles praticaram as “boas obras” de caráter social (Mt 25.35-40) –; e aos perdidos, lança-lhes em rosto que não praticaram a caridade. Também em Mateus 7, depois que Cristo fala da árvore boa que produz frutos bons, e da má que produz frutos maus, afirma em seguida que dirá a muitos: “apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniqüidade”; e estes são os que disseram terem profetizado (ou pregado), e terem realizado maravilhas. E o que é que Cristo ensina sobre a caridade cristã? É o que está em Lucas 10.25-37, a parábola do bom samaritano – “vai e faze o mesmo...” E Tiago 1.27 define a fé cristã : “visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo”. Tiago mesmo em 4.17 diz: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado”, o pecado da omissão, da indiferença.
Deus mesmo colocou diante de mim e da I. P. de Osasco um serviço social notável que precisava ser realizado. Era o ano de 1.981. Havia no “Conjunto Habitacional Presidente Castelo Branco” em Carapicuíba, dois terrenos destinados a Igrejas ou instituições religiosas que assumissem o compromisso de realizar obras sociais no local. Job de Oliveira e Orlando Fogaça, que moravam lá, foram comigo à sede da Cohab. Falamos com Dr. José Celestino Bourroul, Presidente, sem o conhecermos, e sem nenhuma carta de apresentação. Expuzemo-lhe o desejo de ter um dos terrenos. Esclareceu-nos ele que seriam para instituições que se dispusessem a realizar obra social. “Isso se coaduna com os objetivos da Igreja”, respondi. Ele ainda não sabia como escolher as instituições; que nós aguardássemos um comunicado dele. Passaram-se alguns meses, ele nos chamou. A Cohab promoveria uma concorrência pública e as duas instituições que apresentassem os dois melhores projetos receberiam os terrenos por “doação com encargos” explícitos. Criamos o CEPHAS-Centro Presbiteriano Humanitário de Ação Social para realizar os serviços sociais. Concorremos, ganhamos o melhor terreno, regular, de 40 x 50 metros (2.000 m2). Em seis meses deveria a Igreja iniciar a construção, e em 18 meses deveria concluí-la. Aprovada a planta, a Prefeitura fez para a Igreja o serviço de terraplanagem; era o início oficial das obras. A Igreja não tinha dinheiro para a construção; havia recebido um empréstimo de Cr$ 300.000,00 para comprar uma propriedade. A Assembléia da Igreja, contra todas as expectativas, não aprovou a proposta da compra. Resolveu, então, o Conselho, usar os Cr$ 300.000,00 para comprar blocos e outros materiais de construção para usar na Cohab.
Já era meio do ano e não podíamos iniciar a construção por falta de um pedreiro crente. Um domingo foi à Igreja um irmão presbiteriano que não conhecíamos, recém-chegado de Minas Gerais. Ouviu dizer que precisávamos de um pedreiro: Deus o enviara! Gentil Reis Bragança é o seu nome, seria o pedreiro; o presbítero João José Pereira, da Congregação do Rio Pequeno, seria o mestre de obras.
Iniciamos as obras. Solicitamos e recebemos muitos materiais de construção em doações ou nos vendiam com grandes descontos. Numa construção de madeira, erguida para ser depósito de materiais, iniciamos a Congregação, e uma Escola de Datilografia, o 1o. serviço social.
Em maio de 1.984 anunciamos que logo iniciaríamos o trabalho da Creche; não tínhamos a mobília, nem o prédio estava em condições de uso. Alguém me falou de Dr. Fuad Chucre, um empresário que poderia nos ajudar; procurei-o, ele quis na hora ver a construção. Precisávamos de piso, instalações elétricas e hidráulicas, pintura e outras coisas. “Pastor”, disse-me ele: “Arranje 10 homens da Igreja e eu arranjo 10 amigos meus e fazemos um mutirão para pôr o prédio em condições de uso”. Marcada a data, um sábado, realizou-se o 1o. mutirão; o almoço foi um churrasco oferecido e preparado pelo próprio Dr. Fuad Chucre. Outros mutirões se realizaram em alguns sábados seguintes, e o prédio ficou em condições de uso.
Marcamos o mês de julho para inaugurar a creche. Um dia cheguei lá, encontrei mesa de cozinha, fogão, berços e muitos outros móveis, tudo doado pelo povo, sem que tivéssemos pedido; a Creche estava praticamente montada! Só a ação de Deus explica tudo isso!
Senhoras da Cohab – da Igreja e de fora da Igreja – começaram a se reunir para se prepararem e serem as primeiras funcionárias – cozinheira, faxineira e babás. “Não temos condições de oferecer-lhes salário. Se as senhoras quiserem trabalhar “por amor às crianças”, podem vir; quando tivermos condições começaremos a pagar-lhes salário”, disse eu. Aquelas senhoras formidáveis, com D. Solange Lamounier à frente, aceitaram. Se não me falha a memória, o 1o “salário” que demos a elas foi de Cr$ 15,00 e só meses mais tarde passamos a pagar-lhes um salário mínimo, ainda sem registrar ninguém. Em um ano tínhamos 100 crianças na Creche. A “Visão Mundial” veio ao nosso encontro e durante sete anos e meio nos ajudou muito, com importante verba mensal.
Conto isto que é apenas parte dos grandes feitos de Deus, para concluir esta parte: quando nos colocamos à disposição de Deus para fazer o que Ele quer, Ele nos indica claramente a obra, nos capacita e providencia o que é necessário. Precisamos apenas manter a comunhão com Ele, confiar e agir em obediência a Ele. Não temos que dizer a Deus o que queremos fazer e o que queremos dEle; é o contrário: temos que pedir que Ele nos mostre o que deseja que façamos, confiar nEle, e esperar pela Sua providência. Agir sempre com a convicção de que é isso mesmo que Ele quer. A ordem é a que está no Salmo 37.3-7: “Confia no Senhor...deleita-te no Senhor... entrega o teu caminho ao Senhor... descansa no Senhor e espera nEle”.
Hoje o CEPHAS tem 25 anos de existência e a Creche tem 22 anos. Milhares de crianças já passaram por lá e receberam alimentação, higiene, carinho e foram evangelizadas. Muitos de seus pais foram alcançados pela mensagem salvadora. E a pequena congregação ali iniciada é hoje a 3a I. P. de Carapicuíba.
Mas há outra maravilha: durante mais de 10 anos, ali na Creche distribuímos comida pronta a cerca de 40 famílias, todas as noites, de 2a a 6a feira, uma média de 100 quilos por noite. Como foi possível? Deus nos deu a bênção de recebermos de restaurantes da Cidade Universitária (USP) as sobras (não restos) de todo tipo de alimentos que eram servidos nesses restaurantes em grandes quantidades para milhares de pessoas que lá se alimentavam. Diariamente as sobras eram guardadas para nós, que os buscávamos e distribuíamos depois de separar aquilo que poderia ser servido às crianças da Creche.
Desse modo o CEPHAS alimentou centenas de pessoas por cerca de 10 anos.
“DEUS FEZ GRANDES COISAS POR NÓS, POR ISSO ESTAMOS ALEGRES”.

XV. VITÓRIAS E ALEGRIAS, DECEPÇÕES E TRISTEZAS

Assim como foi com Moisés, assim também com os servos de todos os tempos.
Moisés enfrentou a descrença e a desobediência do próprio povo; Coré, Datan e Abiram, seus próprios irmãos Miriã e Aarão e outros lhe trouxeram decepções e tristezas. Paulo fala de Demas, que o “desamparou, amando o presente século”, fala de “maus obreiros” que ele chama de “cães” – Fp 3.2.
Também sofremos decepções com colegas, tanto pastores como presbíteros.
Quando ficamos decepcionados porque uma pessoa pensa de modo diferente de nós, o problema não é sério, o erro pode ser nosso. Mas quando o problema é de infidelidade a Deus e Seu mandamentos, a Cristo e à Sua Igreja, o problema é sério; não podemos ficar neutros e indiferentes, calados, alienados.
Personalismo, que é vaidade; interesses pessoais de mando ou de vantagens pessoais, atitudes que prejudicam ou entravam a obra da Igreja, são alguns dos fatores decepcionantes que também ocorrem na vida da Igreja hoje.
Tudo isso pode estar sendo promovido por obreiros que fraquejam, ou por inimigos do Reino de Deus que se infiltram para tirar algum proveito. No Antigo Testamento são chamados “falsos profetas”; Cristo os chama de “falsos profetas” e “falsos cristos”; Judas, (Jd 1.4) os chama de “homens ímpios”, Paulo os chama de “maus obreiros” e “cães” – Fp 3.2.
Conheci e conheço vários personagens assim. Irmãos em crise, porém irmãos? Ou “falsos profetas”, incrédulos? Só Deus sabe.
1. Conheci um que estava sempre procurando vantagens pessoais. Deixou uma Capelania junto a doentes em estação climática quando ela não lhe interessou mais e “Deus falou com ele” (sic) que devia pastorear uma igreja. Quando uma igreja grande lhe ofereceu também um salário grande, não titubeou e deixou a primeira. Quando uma terceira igreja lhe ofereceu vantagens materiais maiores, deixou a anterior. Eleito por três anos nessa igreja, acabou sendo dispensado pelo Conselho da Igreja antes de terminar o mandato. Algum tempo depois foi para uma quarta igreja. Também dessa igreja um dia foi despedido. Esse era reincidente e errava conscientemente. Terminou muito mal os seus dias.
2. Um outro, diferente do 1o., era trabalhador. Fez, pelo menos aparentemente, alguns bons pastorados, onde era muito querido. Mas tinha dois pontos fracos que acabaram sendo fatais. Casou-se com uma moça que, evidentemente, não era para ser esposa de pastor. O salário do pastor nunca lhes foi suficiente, e ela não complementava com algum trabalho. Como resultado, ele dividia o tempo com o magistério. Assim foi por cerca de 10 anos. Mas surgiu um mal ainda maior. A esposa se enamorou de outra pessoa. Pareceu ao marido que tornar-se missionário em outro país seria a solução. Dois ou três anos depois retornou, pastoreou uma igreja que lhe dava um salário suficiente, mas logo conseguiu outra fonte de renda: ser Diretor de um importante Colégio da Igreja. Precisou deixar esse cargo quando foi acusado de “apropriação indébita” de dinheiro da instituição. Na igreja não se saiu melhor: foi acusado de furtar dinheiro de ofertas depositadas no gazofilácio. Desta vez foi processado, afastado do ministério e da comunhão, e depois despojado do ministério, por causar uma cisão na igreja que pastoreara. Triste fim!
3. Um terceiro era um homem excepcional: inteligente, culto, grande orador, foi professor no Seminário; fez alguns bons pastorados. Até que se tornou pastor de uma grande Igreja. Centralizador, tornou-se dominador. Com ele tornou-se uma igreja voltada para si mesma, que não criou mais nenhuma Congregação, senão uma em um bairro de elite, que se instalou numa mansão e da qual continuou como pastor durante alguns anos. No tempo do papa João XXIII tornou-se adepto do Ecumenismo; participou de casamentos na Igreja Romana e de outras cerimônias ecumênicas. Quando foi denunciado pela política errada que seguia, até em desobediência à Constituição da Igreja, liderou uma cisão na sua Igreja, mas acabou sendo rejeitado pela própria Igreja, e continuou presidindo uma Associação Ecumênica que havia fundado. Ali terminou seus dias, depois de uma completa decadência.
4. Mais um caso doloroso. Foi professor no Seminário, no tempo em que os professores eram “efetivos” e de dedicação exclusiva ao seu magistério. Pois esse professor foi eleito pastor de uma grande Igreja em S. Paulo. Pretendeu ser pastor efetivo sem deixar de ser professor efetivo do Seminário. Uma consulta foi feita ao Supremo Concílio sobre se tal fato seria possível; o Supremo Concílio respondeu negativamente. Obrigado, então, a optar por um dos dois cargos, optou pelo pastorado da Igreja, que lhe oferecia condições financeiras muito melhores. Passaram-se poucos anos, “a máscara caiu”: cometeu adultério com uma senhora da Igreja, que há tempos assediava. Quando se consumou o adultério, ela imediatamente se arrependeu, confessou o pecado ao marido, presbítero da Igreja, e aos filhos; denunciou o pastor. Ele foi deposto do ministério e ela afastada da comunhão. Na justiça civil, esperançoso de ganhar a questão “por falta de provas”, processou a mulher por calúnia, e perdeu a questão diante das provas circunstanciais, sendo condenado a pagar as custas do processo. Triste fim de mais um homem de oratória brilhante, mas de mau caráter, ao qual certamente faltava a conversão.
5. Outro caso doloroso. Bom pregador, dono de boa oratória, era conhecido conferencista. Pastoreou uma igreja grande. Adulterou com a secretária; ficando ela grávida, resolveu fugir com ela. Uma semana depois voltou “arrependido”; foi despojado do ministério. Pouco tempo depois foi imprudentemente restaurado ao ministério por outro presbitério. Logo depois também imprudentemente foi convidado para ser pastor auxiliar em outra igreja grande. Na primeira oportunidade foi eleito e o pastor que o convidara perdeu o lugar. Mas, quando uma pessoa continua sendo escrava do pecado, outras faltas graves são cometidas. Passou-se algum tempo, esse pastor tinha outra mulher que não era a sua; um domingo chegou à Igreja para pregar, foi impedido pelos presbíteros que não podiam mais compactuar com seus pecados.
Não parou aí. Uma Igreja Reformada estrangeira o contratou para pregar regularmente. Quando a direção da denominação soube, ele foi dispensado e o pastor da Igreja, que o contratara, mandado de volta para seu país.
Esses são alguns casos escabrosos. Há aqueles também maléficos, que não são, porém, escandalosos: são geralmente de pessoas inteligentes, mas “profissionais de carreira”. Sempre galgando pastorados mais rendosos, pessoas que pensam em ministério como profissão em que vitorioso é aquele que ocupa cargos cada vez mais importantes, que lhes dão “força política” na Igreja. Os cargos, para eles, não são novas oportunidades para servir até com sacrifício pessoal, mas apenas oportunidade para satisfação da própria vaidade: a vaidade de sentir-se importante e poderoso. Pastores “que se apascentam a si mesmos”, na expressão de Judas 12.
Tais pessoas têm sérias contas a acertar com Deus: mordomos infiéis que esbanjam os talentos dados por Deus, espancam seus conservos e edificam mal sobre o fundamento lançado por outros – 1Co 3.6-15.
6. Conto este último caso por ser de pessoa bem diferente das anteriores, pois não era inteligente como os outros, pessoa de aparência muito simples, de condição social muito humilde. Tinha “mania de ser pastor”. Quando terminou o Curso no Seminário, convidou os irmãos da Congregação para a formatura; mas estranhamente não foi chamado para receber o diploma, como os demais da turma. Mas apresentou-se ao Presbitério; este o colocou como obreiro leigo em uma das Igrejas. Nessa Igreja criou problemas. Durante o exame perante o Presbitério mentiu e foi despedido. Em três ocasiões se disse “pastor da I.P.B.” mas foi a tempo desmentido. Na 3a vez foi em Corumbá, MT. Apresentou-se na Igreja como pastor da I.P.B.. Ingênua e imprudentemente foi recebido pelo Presbitério local sem apresentar a Carteira de Ministro da IPB, que não possuía. Foi nomeado pastor da Igreja, até que um pastor daquele Presbitério soube de tudo e então o infeliz foi destituído.
Fatos muito estranhos, quase incríveis têm acontecido. “Acautelai-vos” é o conselho e ordem de Jesus Cristo em vários textos: Mt 7.15; 10.17; 16.6; 24.4; Lc 12.1.
Satanás está sempre procurando se infiltrar na Igreja, porque é na Igreja que ele pode fazer os piores estragos. O “mundo posto no maligno” (1Jo 5.18) já está sob o seu domínio; ele quer vitórias dentro da Igreja. “Acautelai-vos!”

XVI. DEUS É O SENHOR DA IGREJA

Foi Deus, e não o homem, que tomou a iniciativa de formar na Terra um povo Seu – 1Pe 2.9-10. Começando com Abraão e sua família, preservou e o fez crescer apesar dos fracassos dos privilegiados escolhidos de Deus. Antes de Abraão houve pessoas tementes a Deus, entre eles Sete, Enos, Enoque, Noé e uns poucos mais.
Para formar Seu povo, a “geração eleita”, Deus realizou prodígios na vida daqueles que “pela fé venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas de leões, apagaram a força do fogo...” – Hb 11.33-34.
Passou-se todo o tempo do Antigo Testamento.; o povo escolhido continuou sob a forma da Igreja alicerçada em Cristo e Sua palavra (Mt 16.18). Sobre a Sua Igreja, Cristo diz: “as portas do inferno não prevalecerão sobre ela”.
A “Igreja gloriosa” dos dias do apóstolos teve os seus Ananias e Safira (At 5.1-10), Demas (2Tm 4.10), Himeneu e Alexandre (1Tm 1.20), os “maus obreiros” (Fp 3.2). As cartas às sete igrejas do Apocalipse, denunciam a fraqueza e a imperfeição de seis delas.
Mas a garantia de Cristo – Mt 16.18 – jamais deixou de se cumprir, pois a Igreja gloriosa de Cristo não é aquela que se vê, constituída de féis e de infiéis, mas apenas a Igreja invisível, constituída exclusivamente dos salvos e fiéis. Estes são identificados sem nenhuma possibilidade de engano, pelo próprio Deus.
Essa Igreja gloriosa e invisível sempre existiu e continuará existindo porque Deus a sustenta – Jo 10.27-29. Quem realmente faz parte dela, não sabemos com certeza. Se julgarmos, poderemos enganar-nos. Porém, podemos saber com certeza aquilo que interessa a cada um de nós: “o Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” – Rm 8.16.
Cabe-nos trabalhar e lutar por esta Igreja – Jd 3. Deixar de fazê-lo é pecar por omissão.
Muitos se enganam a si mesmos e conseguem enganar a muitos durante muito tempo, mas ao Senhor da Igreja não poderão jamais enganar: Mt 7.21-23. Por outro lado, outros ouvirão do Senhor o “Vinde, benditos de Meu Pai...” – Mt 25.14.
Em que grupo você se encontra e se encontrará? Se tem dúvidas, faça uma auto-crítica rigorosa; não procure iludir-se, procure a certeza. A conversão, com a mudança real e profunda de vida no intimo, é a única coisa que poderá dar tranqüilidade a alguém sobre o seu futuro na eternidade. Confie na promessa de Cristo em Lc 11.13: “Se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais dará o Pai o Espírito Santo aos que lho pedirem?”
Quanto ao futuro da Igreja, estejamos tranqüilos. Ela está sob a guarda e proteção do próprio Deus. Cabe-nos ser fiéis e zelar por ela.
O salvo pode ter certeza de sua salvação eterna – Jo 10.28-29 e Rm 12.16 – e a verdadeira Igreja será sempre gloriosa aos olhos de Deus – Ef 5.27.

Rubens Pires do Amaral Osório

4 comentários:

Volney Faustini disse...

Que alegria ao ler e me deliciar dessas histórias todas - ousadamente resumidas em um `post`! Muito didático, muito inspirador, muito encorajador e muito emocionante.

Sendo amigo da família, contemporâneo do filho (e da filha) poderia até parecer suspeita minhas boas emoções ... E eu com isso? Estou mesmo!!!

Homens como o Rev Rubens que fizeram o lado extremamente bom e positivo de nosso evangelicalismo. E isso é motivo de santo orgulho - de sabermos disso e de honrarmos, diante de Deus e dos homens!

Só um toque ácido (!) - he he ... se começou assim tão bom, vai ter que continuar nos brindando sempre. Em blog o que vale é a constância - mesmo que seja em pílulas.

Então - em nome (me `arvorando` como representante) bem vindo à blogosfera e por favor: queremos mais!!!!

Fiquem na paz - e eu ficarei nesta grande alegria!! abs

O servo não é maior que seu Senhor disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
O servo não é maior que seu Senhor disse...

Li e gostei. achei muito interessante o relato e as citaçoes de companheiros de ministério, particularmente, a respeito do Rev. Amilton Michalski, que mora hoje na Cidade Atibaia e sei que realmente ele pastoreou em Ubatuba,Caragua, Taubate e outras tantas,cidades, sendo que participamos de vários trabalhos aqui em São Paulo.
que Deus o Senhor da obra a nos confiada seja engrandecido por tudo que foi feito pelo pastor Rubens Osório.
Deus abeçoe a todos.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.