quinta-feira, agosto 16, 2007

A Igreja e seus Característicos

O que caracteriza uma Igreja é sua doutrina, juntamente com seus costumes. Não é só doutrina, nem são só costumes; aquela poderia ser reunida num só livro; estes refletem o modo de pensar, a filosofia, a prática doutrinária.
As igrejas evangélicas tinham seus característicos bem definidos: doutrina, governo, disciplina e liturgia ou forma de culto. Hoje estão se descaracterizando. Talvez seja em nome de um falso ecumeninsmo evangélico que se começou a permitir a introdução de práticas diferentes daquelas que até então as caracterizavam; falso, porque o verdadeiro ecumenismo cristão não leva crente nenhum e igreja nenhuma à perda de sua identidade. Unidade na diversidade, isso sim. Não somos amorfos, nem devemos ser.
A mídia - rádio, inicialmente, depois a televisão - foi usada levando as "novidades" a todos os grupos evangélicos. Essa aproximação - em si mesma desejável - deu, porém, resultados inesperados e reprováveis. A evangelização começou a ser confundida com proselitismo por grupos tanto mais agressivos quanto menos afeitos a estudo sério das Escrituras; crescimento numérico das igrejas passou a ser a grande preocupação; igrejas evangélicas se deixaram contaminar por essa febre de crescimento por adesão e não por conversão; urna anti-cultura começou a seduzir muitos evangélicos e o beneficiário de tal desapreço foi o néo-pentecostismo, agora dentro das igrejas.
As igrejas néo-pentecostais, por sua vez, foram cada vez mais se dividindo, de cisão em cisão, multiplicando e crescendo, exatamente por faltar, a cada urna delas, um corpo doutrinário que exige estudo, e práticas bem definidas, com base bíblica. A migração entre esses grupos é muito grande, motivada por novidades e modismos que vão surgindo, fruto da criatividade dos líderes. Um verdadeiro exibicionismo de fé caracteriza esses grupos e ao mesmo tempo é um fator de atração de incautos e ingênuos.
Se tudo isso se passasse apenas entre grupos néo­-pentecostais, o prejuizo espiritual para o Reino de Deus não seria grande, mas isso está acontecendo há tempos em igrejas evangélicas, com graves prejuizos para a evangelização séria e verdadeira, que não é superficial, pois objetiva não a adesão, mas a conversão e santificação, com base no Evangelho puro, sem mistura com práticas fetichistas e sem concessões de ordem moral.
A primeira denominação vítima desse fenomeno foi a Igreja Metodista. Com a cisão que deu origem a Igreja Metodista Wesleyana. A Convenção Batista Brasileira perdeu, em um ano, um milhão de membros. Quanto às igrejas presbiterianas, apesar de sua tradição conservadora e grande cuidado na formação teológica, bíblica e cristocêntrica, não tem ficado imunes a tal infiltração e consequente descaracterização.
Há mais de 20 anos, no norte do Paraná, um presbitério inteiro (de Cianorte) foi minado dando origem à Igreja Cristã Presbiteriana. Outras cisões deram origem às Igrejas Presbiterianas Renovadas. Hoje existem Igrejas Luteranas "renovadas" e muitas outras. O néo-pentecostalismo se infiltrou até na Igreja Romana.
Na Igreja Presbiteriana Independente do Brasil não houve urna cisão; ela passou a viver com 3 grupos internos bem distintos: o primeiro, formado por pastores, crentes e igrejas que se mantem firmes na doutrina presbiteriana; o 2° grupo, de pastores, crentes e igrejas que se tornaram teologicamente liberais, e o 3o grupo, pentecostalizado completamente.
Isso está acontecendo, também em nossa Igreja Presbiteriana do Brasil - Deus tenha piedade de nós. O que acontece e pode causar grandes transtornos é numa ala da Igreja - onde parece prevalecerem pastores bem jovens - está-se criando um hibridismo absurdo: um calvinismo nominal consorciado com pentecostalismo mal-disfarçado. A direção da Igreja "parece" desconhecer o fato.
A estratégia do inimigo, para infiltrar-se na I.P.B. parece consistir em questionar certos valores: 1) por que não fazer uma pequena concessão litúrgica a alegres presbiterianos que gostam de música jovem de inspiração néo-pentecostal? 2) Por que não fazer outra concessão, com a introdução da poluição sonora das palmas, dos instrumentos elétricos mal tocados por jovens que irão embora se não puderem misturar culto e diversão? 3) Por que conservar a ortodoxia presbiteriana calcada na doutrina da soberania de Deus, absolutamente cristocêntrica, quando está visto que as igrejas que deixam isso de lado são as que mais crescem? Tornam-se antropocêntricas, mas são as que mais crescem?
O resultado de tal modo de pensar será uma igreja presbiteriana apenas no nome. Talvez provoque mesmo uma cisão. Até pode ser esse o objetivo de muitos.
Que fazer diante disso? Lembro-me da recomendação de Paulo em Rm 14.1: "Quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas." Rejeitá-lo não é a atitude certa; "recebei-o". É preciso ter paciência, suportá-lo conforme Cl 3.12-16, para ganhá-lo, tal como Priscila e Áquila fízeram com Apolo - At 18.24-26.
É preciso doutrinar quem não foi bem doutrinado. Crentes bons, convertidos e sinceros, mas que nunca foram ensinados como deviam ter sido; evangelizados superficialmente, não estão acostumados a "examinar as Escrituras" como recomenda Cristo, e como fizeram os judeus de Beréia. Seus "iluminados pastores" lhes ensinaram que o Espírito Santo revela tudo e poderá revelar tudo a todos; para quê, então, estudar? Por que preparar cuidadosamente um sermão ou uma aula, se podem apenas orar e deixar o Espírito Santo falar por meio deles?
Para isso é necessário visitar as igrejas e pregar o Evangelho puro e alertá-los sobre os "outros evangelhos". É preciso colocar ao alcance dos crentes literatura bíblica, a começar pelo jornal da igreja e as revistas da Escola Dominical; realizar muitas reuniões de estudo, simpósios, seminários, cursos por correspondência, etc. Muitos crentes sinceros serão recuperados. Simpatia, aliada a uma real piedade cristã e à firmeza doutrinária, poderá levar novamente a Igreja a gozar saúde espiritual. Nem tudo está perdido!

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