A TEOLOGIA BÍBLICA DO PERDÃO
É impressionante a atitude de Jesus frente a seu algozes, quando ainda estava na cruz: “Pai, perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem” - Lc 23.34. Ele, que não viera para julgar ou condenar - Jo 3.17 - mas para salvar, intercedia junto ao Pai para que estendesse também àqueles homens a Sua graça perdoadora e salvadora. As Escrituras não ensinam um perdão romântico, mas um perdão restaurador.
Estêvão era apenas um homem, mas era um verdadeiro cristão. Ele também, quando estava sendo apedrejado, intercedeu por seu algozes: “Senhor, não lhes imputes mais este pecado” - At 7.60.
Quem é que Deus perdoa e quando é que Deus perdoa? Se estas questões não estiverem bem claras em nossas mentes, poderemos ter noções erradas sobre o perdão; e tudo que se desvia do ensino bíblico se torna nocivo à nossa vida espiritual.
Todo o ensino bíblico deixa claro que Deus perdoa a todo e qualquer pecador que esteja contrito e arrependido. E verdadeiro arrependimento (metanóia, no Grego), confunde-se com a própria conversão, é fruto da verdadeira fé transformadora, só se alcança através de Cristo. Temos muitos exemplos: Davi, depois de pecar gravemente - Sl 51.1-5 e 17 - confessa realmente contrito; a um dos malfeitores, na cruz, Jesus declara: “...hoje estarás comigo no Paraíso” - Lc 23.43. Era outro homem, grande pecador, mas convicto de seus pecados, e contrito de coração, agora perdoado e salvo.
Para que Deus perdoe, o reconhecimento do pecado como ato e como estado, o arrependimento e o abandono do pecado, são condições claramente ensinadas por Deus e exemplificadas em vários casos.
João Batista pregou: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” - Mt 3.2; Marcos 1.4 registra: “Apareceu João batizando no deserto, e pregando o batismo de arrependimento, para remissão de pecados”; Lucas faz o mesmo registro em 3.3, mais completo, porém, sobre a mudança de atitudes e abandono do pecado: “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento” - 3.8. João Batista chama de “raça de víboras” aqueles que, sem arrependimento, buscavam inutilmente apenas o batismo para fugir à ira de Deus. Com a mesma mensagem Jesus iniciou seu ministério - Mt 4.17.
Quando não há arrependimento, não há perdão e salvação - Lc 3.7. Um exemplo é o referente a Esaú, em Hb 12.17: “...não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou”.
Até aqui, falamos do perdão de pecados, que só é dado por Deus. E o perdão que nós devemos dar?
Há alguns textos básicos sobre este assunto: Mt 6.14-15; Mt 18.15-17; Lc 17.3-4. Como todo texto das Escrituras, esses textos não podem ser interpretados isoladamente.
Em Mt 6.14-15 Cristo afirma que teremos perdão se também perdoarmos; se não perdoarmos também não seremos perdoados; em Mt 18.15-17 manda Ele que repreendamos a quem nos tenha ofendido - a sós primeiramente, com testemunhas na segunda vez, e depois levando-o ao juízo da igreja. No terceiro texto - Lc 17.3-4 - Jesus Cristo fala mais uma vez sobre o perdão que devemos dar ao ofensor: “Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe. E, se pecar contra ti 7 vezes no dia, e 7 vezes no dia vier ter contigo dizendo: estou arrependido, perdoa-lhe”. Sete, porém, não é o número máximo, mas apenas um número simbólico. Pedro lhe perguntou: “Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete, mas até setenta vezes sete” - Mt 18.22.
Reunindo todos esses textos: temos de perdoar para que sejamos perdoados; o perdão, porém, não é incondicional. Cabe ao ofendido, também, o dever de repreender o ofensor e, se este disser que está arrependido, perdoá-lo. Leia também Lv 19.17.
Causa estranheza a muitos afirmar que, se não há arrependimento do ofensor também não há condições para o perdão. Os apóstolos também julgaram difícil poder perdoar sempre e pedirem ao Senhor: “acrescenta-nos a fé”. Mas não temos de nos guiar por nossos sentimentos e opiniões pessoais, nem sempre sinceros. Há o ensino bíblico - claro, autorizado e definitivo.
Há, até, quem fique escandalizado por ouvir que não temos de perdoar quem não está arrependido. Existe um sentido do perdão obrigatório para o cristão, sempre: não exercer a vingança, não retribuir o mal com o mal. “A Mim me pertence a vingança; Eu retribuirei, diz o Senhor”. “Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos de teu povo” - Lv 19.18 e Rm 12.19.
O perdão completo, que leva até ao esquecimento da falta, só é possível quando há o arrependimento do ofensor. Assim também é o perdão de Deus: “...perdoarei as suas iniquidades, e dos seus pecados não Me lembrarei mais” - Jr 31.34. Esse texto precisa ser entendido, também, à luz de 2Cr 7.14, onde o ensino do arrependimento é claro.
(continua)
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